A retirada da tarifa de até 40% sobre café, carnes e itens industriais recoloca o Brasil em uma posição mais competitiva no mercado americano, mas o impacto econômico deve ser gradual. A medida melhora margens de exportadores específicos e reabre o diálogo entre Brasília e Washington, porém seu efeito amplo dependerá de câmbio, logística e do comportamento do comércio global. “A decisão exige cautela: embora positiva, o impacto agregado será gradual e condicionado à execução exportadora, ao câmbio e à competição internacional”, afirma Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos.
O gesto dos EUA abre uma janela relevante: ao remover barreiras para produtos estratégicos, Washington sinaliza disposição para renegociar outras tarifas ainda em discussão. Para o Brasil, é chance de reconquistar espaço em cadeias produtivas americanas que exigem custo competitivo e previsibilidade regulatória — fatores essenciais para proteína animal, café e componentes industriais.
Reação imediata é positiva, mas efeitos se espalham no médio prazo
Segundo Volnei Eyng, CEO da Multiplike, a decisão cria oportunidade para ampliar acordos comerciais. “O Brasil pode usar esse movimento para negociar a eliminação de tarifas em outros produtos. O efeito imediato é concentrado nos exportadores, mas, com o tempo, mais dólares entram no país e o impacto se dissemina. Para o investidor, é um sinal de oportunidade, especialmente para empresas do agronegócio e da indústria exportadora.”
A flexibilização tarifária também reposiciona cadeias logísticas e renegocia prazos de financiamento. “Quando cadeias como alimentos e insumos industriais recuperam competitividade, o reflexo cai direto sobre capital de giro e prazos de recebíveis”, explica Gustavo Assis, CEO da Asset Bank. Ele ressalta que o mercado de crédito estruturado é o primeiro a reagir, já que exportadores tendem a buscar FIDCs para travar fluxo de caixa no momento em que margens melhoram.
Pressão global ainda limita a aceleração do comércio
Para Richard Ionescu, CEO do Grupo IOX, a retirada da tarifa reorganiza custos e reabre rotas comerciais, mas o ambiente internacional segue desafiador. “As cadeias se integram novamente quando o custo tributário cai, mas a ampliação da escala depende de logística eficiente e de estabilidade cambial. Nesse cenário, crédito corporativo sob medida e FIDCs ganham relevância para sustentar capital de giro de exportadores em expansão.”
Na mesma linha, Pedro Da Matta, CEO da Audax Capital, destaca que os ganhos aparecem primeiro na redução de volatilidade e na recomposição de margens. “A reversão da tarifa facilita negociações futuras e reduz o risco de represálias. O impacto inicial é sobre preços e margens; depois, sobre confiança e fluxo de capital. A demanda por estruturas de crédito tende a crescer.”
Ambiente de negócios ganha previsibilidade — e isso vale mais que o ganho imediato
Para o ecossistema de inovação e venture capital, o maior efeito está na previsibilidade. Antonio Patrus, diretor da Bossa Invest, afirma que a decisão “retira incertezas que travavam a internacionalização de startups”. Ele destaca setores de agro, clima, supply chain e logística como os principais beneficiados. “Com mais clareza regulatória, founders conseguem projetar expansão para os EUA com menor risco geopolítico.”
Gabriel Padula, CEO do Grupo Everblue, reforça o mesmo ponto: “O alívio tarifário reduz o risco-país e melhora o ambiente de negociação. Exportadores tendem a buscar operações de crédito estruturado com inteligência de dados, porque a previsibilidade aumenta a necessidade de travar financiamento e ampliar capacidade produtiva.”
Brasil recupera margem de negociação, mas competitividade continuará sendo o divisor de águas
O corte tarifário melhora o ambiente diplomático e recoloca o Brasil no radar de cadeias industriais e agrícolas dos EUA. Para João Kepler, CEO da Equity Group, o movimento “remove um entrave que pressionava custos e travava a expansão internacional de vários setores”. Ele observa que startups de logística, agro e energia se beneficiam diretamente da abertura. “Para o investidor, é redução de ruído e ampliação de confiança em negócios escaláveis e prontos para competir fora.”
















