O mercado financeiro inicia a terça-feira (9) com as atenções voltados para a aguardada Superquarta quando o Federal Reserve (Fed) e o Comitê de Política Monetária (Copom) vão decidir o patamar da taxa de juros. As reuniões começam já desta terça.
As expectativas ganham força à medida que dados recentes de inflação e atividade ajudam a moldar o cenário de política monetária no Brasil e nos Estados Unidos, elevando a sensibilidade dos investidores aos sinais que serão dados pelas autoridades monetárias.
No exterior, o foco está na possibilidade de um último corte de 25 pontos-base pelo Fed, enquanto no Brasil a expectativa é de manutenção da Selic em 15%, reforçando o discurso de cautela do Banco Central. A divulgação do IPCA de novembro também ganha peso adicional na avaliação sobre os próximos passos da autoridade monetária brasileira.
Superquarta: Fed deve entregar último corte antes de uma pausa prolongada
De acordo com Andressa Durão, economista do ASA, as declarações recentes de membros do Fomc, entre eles o presidente do Fed de Nova York, John Williams, criaram um consenso de que o Banco Central americano deve realizar um último corte de 25 bps, levando os juros para o intervalo de 3,50% a 3,75%.
“A decisão provavelmente não será unânime, devido à divisão interna no comitê. O comunicado deve ser ajustado para deixar claro que um novo corte na reunião seguinte não é o cenário-base“, afirma.
O mercado também acompanha de perto o dot plot, que deve manter apenas um corte de 25 bps para 2026, em linha com as projeções de setembro. Apesar da manutenção da trajetória de juros, a economista vê espaço para revisões.
“O núcleo da inflação do PCE até setembro foi suficientemente fraco para permitir que as projeções de inflação do Fed sejam revisadas para baixo”, explica Durão.
Ao mesmo tempo, as estimativas de PIB devem subir, enquanto a projeção de desemprego deve permanecer estável. A expectativa é que Powell reforce o discurso de calibragem fina da política monetária, reconhecendo a piora gradual no mercado de trabalho, mas adotando uma postura mais cautelosa.
No Brasil, Copom caminha para manter Selic em 15%
No cenário doméstico, a análise do ASA é clara: não há espaço para corte de juros nesta reunião. Para o economista Leonardo Costa, o Copom deve manter a Selic em 15%, seguindo sua estratégia de manter a política monetária em terreno contracionista até que a convergência da inflação esteja assegurada.
Segundo ele, o balanço de dados desde a última reunião se tornou “mais benigno”, com inflação corrente mais fraca e sinais de desaceleração da atividade. No entanto, dois pontos continuam preocupando o Banco Central:
- mercado de trabalho ainda apertado;
- expectativas de inflação acima do centro da meta.
“O comunicado deve reforçar que a Selic precisa permanecer em território contracionista por um período prolongado”, afirma Costa.
O ASA mantém a projeção de início dos cortes apenas em março de 2026, com redução de 0,50 p.p., condicionada à melhora das expectativas e à desaceleração mais evidente da economia. Ainda assim, o economista reconhece que o cenário recente aumenta o risco de um corte antecipado em janeiro, embora não seja a aposta central.
IPCA de novembro: energia pressiona, alimentos aliviam
Além das decisões de Fed e Copom, o mercado acompanha atentamente a divulgação do IPCA de novembro, que deve acelerar para 0,18%, segundo estimativas do ASA.
O principal fator de alta será o fim da deflação da energia elétrica, após o retorno da bandeira vermelha 1. Serviços também devem subir, influenciados pelo efeito pontual da COP30 em Belém, que elevou preços de hospedagem.
Por outro lado, dois movimentos ajudam a conter a pressão inflacionária:
- deflação de alimentos, puxada por in natura e leite;
- queda da gasolina, refletindo reduções nas distribuidoras.
Segundo Costa, o indicador subjacente continua “benigno”, permitindo ao ASA projetar um fechamento de inflação em 4,2% para 2025, abaixo do teto da meta (4,5%).
Mercado entra na Superquarta dividido, mas com mais visibilidade para 2026
A combinação de um Fed próximo do juro neutro e de um Banco Central brasileiro ainda reticente em iniciar o ciclo de cortes cria um ambiente de transição para os mercados.
Nos EUA, o tom da coletiva de Jerome Powell será decisivo para calibrar apostas para o início de 2026. No Brasil, a atenção estará voltada ao comunicado do Copom e à forma como o BC interpretará os sinais recentes de desaceleração e alívio inflacionário.
Com a Superquarta já em andamento desde esta terça (9), investidores aguardam duas decisões que devem orientar o humor dos mercados até o início do próximo ano.













