Os Estados Unidos vivem horas decisivas para evitar um novo shutdown do governo federal. Uma votação no Senado está prevista para hoje sobre um projeto de lei já aprovado na Câmara, que mantém o financiamento apenas até o final de novembro. O texto, no entanto, encontra resistência, os democratas do Senado bloqueiam a medida por considerarem que não há garantias suficientes para áreas como saúde, enquanto os republicanos não contam com os 60 votos necessários para avançar a proposta.
O presidente Donald Trump convocou para hoje uma reunião na Casa Branca com os quatro principais líderes do Congresso em uma última tentativa de acordo. Estarão presentes John Thune (líder da maioria no Senado), Mike Johnson (presidente da Câmara), Chuck Schumer (líder da minoria no Senado) e Hakeem Jeffries (líder da minoria na Câmara). Até agora, tanto Schumer quanto Thune não demonstraram flexibilidade em suas posições, o que mantém o risco de paralisação em patamar elevado.
O que acontece em caso de shutdown?
O shutdown é a paralisação parcial das atividades do governo por falta de recursos, quando o Congresso não aprova as leis de financiamento ou medidas temporárias de prorrogação. Nessas situações, serviços considerados “não essenciais” são interrompidos, e funcionários federais ficam sem remuneração até que o impasse seja resolvido. Serviços essenciais, como defesa, controle aéreo e saúde de emergência, seguem funcionando.
Cada paralisação segue um plano de contingência, mas algumas áreas costumam ser impactadas de forma recorrente:
- Emissão de vistos, cidadania e passaportes (com atrasos significativos);
- Inspeções de segurança alimentar conduzidas pela FDA;
- Análises epidemiológicas e apoio em saúde pública;
- Aprovação de empréstimos para pequenas empresas;
- Financiamentos habitacionais por agências federais;
- Atendimento a veteranos (call centers e benefícios limitados);
- Funcionamento parcial de parques nacionais e monumentos.
Além disso, benefícios sociais como o SNAP (programa de assistência alimentar) dependem de fundos de contingência que podem se esgotar em caso de paralisação longa. Já pagamentos da Segurança Social continuam, mas com serviços auxiliares suspensos.
Impactos para a economia e para os mercados
A história mostra que paralisações prolongadas geram perdas relevantes. O shutdown de 2018-2019, o mais longo já registrado, durou 35 dias e reduziu em US$ 3 bilhões o crescimento econômico do período, segundo o Escritório de Orçamento do Congresso (CBO). Paralisações anteriores ocorreram em 2013, durante o governo Obama, e em 1995, na gestão Clinton.
Caso o shutdown seja confirmado amanhã à noite, o Bureau of Labor Statistics pode não conseguir publicar o relatório de empregos (payroll) na sexta-feira, um dos indicadores mais acompanhados pelos mercados globais. “A ausência desse dado aumenta a incerteza sobre a economia americana e pode gerar volatilidade adicional nos ativos de risco”, alerta Andressa Durão.
O que esperar
Para os mercados emergentes, como o Brasil, o shutdown traz efeitos indiretos mas importantes. O fortalecimento do dólar em momentos de incerteza pressiona moedas como o real, encarecendo importações e elevando custos de empresas expostas ao câmbio. Além disso, o aumento da volatilidade pode afetar o apetite de investidores estrangeiros para ativos brasileiros.
O cenário imediato depende do resultado da reunião de hoje entre Trump e os líderes do Congresso. Se não houver acordo até a meia-noite de terça para quarta-feira (1º de outubro), o governo americano entrará em shutdown. O desfecho do impasse pode se estender por dias ou semanas, com consequências diretas para a população americana e reflexos globais.
