A produção industrial brasileira registrou alta de 0,1% em outubro de 2025, após a queda de 0,4% observada em setembro, segundo a Pesquisa Industrial Mensal (PIM) divulgada nesta terça-feira (2) pelo IBGE. Apesar do avanço, o setor ainda opera com desempenho desigual entre os segmentos e segue distante do nível recorde alcançado há mais de uma década.
Com o resultado, a indústria se mantém 2,4% acima do patamar pré-pandemia, mas ainda 14,8% abaixo do pico histórico de maio de 2011, evidenciando um processo de recuperação lento e marcado por oscilações.
Na comparação com outubro de 2024, a produção total da indústria voltou a recuar e registrou queda de 0,5%. No acumulado de 2025, o setor mostra crescimento moderado de 0,8%, enquanto o avanço em 12 meses é de 0,9%, ritmo menor do que o observado nos períodos anteriores.
Produção Industrial: extrativas lideram alta
Entre os 25 ramos pesquisados, 12 registraram crescimento na passagem de setembro para outubro, com destaque para as indústrias extrativas, que avançaram 3,6%. Segundo André Macedo, gerente da pesquisa, o aumento foi impulsionado pela maior extração de petróleo, minério de ferro e gás natural.
“O crescimento observado em outubro eliminou a perda de 1,7% acumulada nos meses de agosto e setembro”, afirmou Macedo.
Outros setores com desempenho positivo no mês incluem:
- Informática, produtos eletrônicos e ópticos: +4,1%
- Confecção de vestuário: +3,8%
- Veículos automotores: +2,0%
- Produtos químicos: +1,3%
- Alimentos: +0,9%
Quedas fortes em derivados de petróleo e farmacêuticos
Entre os setores que registraram retração, dois tiveram impacto expressivo na média da indústria:
- Coque, derivados de petróleo e biocombustíveis: -3,9%
- Reflexo de paralisações em unidades produtivas.
- Produtos farmoquímicos e farmacêuticos: -10,8%
- O setor acumula perda de 19,8% em dois meses, após crescer 28,6% entre maio e agosto.
Outras quedas relevantes foram observadas em:
- Impressão e gravações: -28,6%
- Produtos do fumo: -19,5%
Bens duráveis lideram recuperação na produção industrial
Entre as grandes categorias econômicas, três avançaram frente a setembro:
- Bens de consumo duráveis: +2,7%, maior alta do mês
- Bens de capital: +1,0%
- Bens de consumo semi e não duráveis: +1,0%
O único recuo ficou com bens intermediários, que caíram 0,8%, intensificando a perda de 0,4% registrada em setembro.
Na comparação anual, 15 de 25 ramos recuam
O recuo de 0,5% frente a outubro de 2024 reflete quedas disseminadas:
- 15 dos 25 ramos
- 53 dos 80 grupos
- 53% dos 789 produtos pesquisados
Os maiores impactos negativos vieram de:
- Derivados de petróleo: -10,7%
- Veículos automotores: -8,4%
- Produtos farmoquímicos e farmacêuticos: -9,3%
- Máquinas e materiais elétricos: -6,3%
- Produtos de metal: -5,9%
- Madeira: -10,7%
- Impressão: -18,7%
Entre as altas, destacam-se:
- Extrativas: +10,1%
- Alimentos: +5,3%
- Manutenção e reparação de máquinas: +10,1%
- Outros equipamentos de transporte: +8,3%
- Têxteis: +5,9%
Produção industrial avança, mas sinaliza desaceleração
Os dados mostram que, embora a indústria brasileira tenha registrado avanços pontuais e mantenha crescimento no acumulado de 12 meses, a dinâmica de médio prazo ainda é marcada por fragilidade, influenciada por gargalos em segmentos estratégicos, paralisações produtivas e quedas expressivas em setores-chave.
O comportamento heterogêneo entre os ramos reforça um cenário de recuperação lenta e sujeita a perdas de ritmo, ponto de atenção para a atividade econômica no último trimestre de 2025.
O que dizem os especialistas
Para Maykon Douglas, economista, esse dado é mais um caso em que o número em si não conta toda a história. “O setor voltou a cair na comparação anual e, o impacto do setor extrativo na margem, que costuma ser bastante volátil, foi menor que o esperado“, avaliou.
Eles destaca que o carry-over para a indústria geral neste quarto trimestre é de apenas 0,1%, sendo que para o setor de transformação é de -0,4%. “Números bem tímidos“, avalia.
Ele pontua também que há algum tempo a indústria doméstica opera em dois trilhos, com alguns bons resultados no setor extrativo e uma grande fraqueza na indústria de transformação, mais sensível às condições dos juros. “Com o aperto monetário em curso pelo Banco Central, a tendência é que essa trajetória se mantenha nos próximos meses“, conclui.
Já Leonardo Costa, economista do ASA, o desempenho da indústria no acumulado do ano reforça a leitura de um setor que avança de forma lenta e concentrada. Para ele, o crescimento tem sido sustentado principalmente por extrativas e por máquinas e equipamentos, enquanto segmentos ligados ao consumo das famílias, como bens semi e não duráveis, continuam sendo “o elo mais fraco da cadeia produtiva”.
Costa avalia que o conjunto dos indicadores mantém o mesmo padrão observado nos últimos meses: “uma atividade industrial praticamente parada, com oscilações importantes entre os ramos, mas ainda distante de qualquer sinal de retomada consistente”.














