O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, afirmou nesta quarta-feira (29), que ainda há divergências entre os dirigentes do banco central dos Estados Unidos sobre os próximos passos da política monetária. Após o corte de 0,25 ponto percentual anunciado hoje, Powell alertou que os mercados não devem presumir automaticamente que haverá uma nova redução dos juros na reunião de dezembro.
“Nas discussões do comitê nesta reunião, houve opiniões muito diferentes sobre como proceder em dezembro. Uma nova redução da taxa básica de juros na reunião de dezembro não é uma conclusão precipitada. Longe disso, a política monetária não está em uma trajetória predefinida”, disse Powell em coletiva após o encontro do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC).
Powell confirma redução do quantitative tightening
Powell também confirmou que o banco central encerrou o processo de redução do seu balanço patrimonial, o chamado quantitative tightening, e indicou que, em algum momento, o Fed precisará voltar a expandi-lo. Segundo ele, o objetivo é garantir que o sistema financeiro mantenha níveis adequados de liquidez para preservar a estabilidade dos juros de curto prazo.
“O banco central dos Estados Unidos, que acabou de parar de reduzir seu balanço patrimonial, terá que começar a aumentá-lo novamente em algum momento”, afirmou. Ele explicou que, à medida que o sistema bancário e a economia crescem, as reservas precisarão ser ampliadas. “As reservas precisarão crescer para acompanhar o tamanho do sistema bancário e o tamanho da economia, portanto, em um determinado momento, adicionaremos reservas”, disse Powell.
Incerteza e cautela no horizonte
Para Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, o discurso de Powell trouxe um tom mais cauteloso e acabou esfriando o ânimo dos mercados. “Ele colocou muita dúvida sobre a chance de corte na reunião de dezembro. Se a decisão fosse hoje, parece que o cenário mais provável seria o de manutenção da taxa”, avaliou. Cruz destacou que o presidente do Fed expôs um comitê dividido, refletindo o equilíbrio visto nas projeções recentes, nas quais metade dos dirigentes esperava dois cortes até o fim do ano e a outra metade defendia apenas o corte já realizado.
Apesar do tom mais duro, o estrategista ressaltou que a surpresa negativa não deve gerar grandes distorções nos mercados, já que o Fed também anunciou o fim do programa de redução do balanço, o que tende a aumentar a liquidez. Segundo ele, Powell indicou que o banco central está se aproximando da taxa neutra, aquela que não estimula nem desacelera a economia, e que parte dos dirigentes já vê necessidade de uma pausa em dezembro, com possível retomada dos cortes apenas em janeiro. “O discurso foi de cautela, mas sem sinalizar reversão de política”, resumiu Cruz.
O estrategista ainda chamou atenção para as falas de Powell sobre inflação e inteligência artificial. “Ele reforçou que a criação de vagas segue desacelerando, mas sem colapso no mercado de trabalho, e reconheceu que as tarifas podem pressionar preços no futuro, embora isso já esteja incorporado ao cenário base do Fed. Sobre IA, achei interessante ele negar que haja uma bolha, Powell destacou que, diferentemente da era das pontocom, as empresas de inteligência artificial hoje têm receitas, modelos de negócio consolidados e capacidade de investimento independente da taxa de juros”, concluiu Gustavo Cruz.
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