O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil avançou 0,4% no segundo trimestre de 2025, frente ao primeiro trimestre, na série com ajuste sazonal. O resultado superou a expectativa de mercado, que projetava alta de 0,3%, mas mostrou sinais de moderação em alguns componentes da economia. No acumulado do primeiro semestre, o crescimento foi de 2,5% em relação ao mesmo período de 2024.

Na comparação com o segundo trimestre de 2024, o PIB cresceu 2,2%. O resultado foi impulsionado pela Agropecuária (10,1%), pela Indústria (1,1%) e pelos Serviços (2%). No acumulado de quatro trimestres, a alta foi de 3,2%.
Pela ótica da produção, os Serviços cresceram 0,6% no trimestre, com destaque para atividades financeiras (2,1%), informação e comunicação (1,2%) e transporte (1,0%). A Indústria avançou 0,5%, puxada pelas Indústrias Extrativas (5,4%), enquanto a Agropecuária apresentou leve queda de 0,1% após forte resultado no início do ano.
Pela ótica da demanda, o Consumo das Famílias subiu 0,5%, mas a Formação Bruta de Capital Fixo recuou 2,2%, interrompendo seis trimestres consecutivos de alta. O Consumo do Governo caiu 0,6%, enquanto as Exportações cresceram 0,7% e as Importações caíram 2,9%.
O que dizem os especialistas sobre o PIB?
Para Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, o resultado confirma uma desaceleração gradual da economia. “O PIB veio um pouco acima do esperado, mas já mostra efeitos dos juros altos, com investimentos caindo 2,2%. As empresas e famílias estão postergando projetos e consumo de bens duráveis. O crescimento segue sustentado pelos serviços, mas em ritmo mais moderado”, avaliou.
Na visão de Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, a surpresa positiva ficou por conta da agropecuária, que caiu menos do que o previsto, e do consumo das famílias, que continua forte. Por outro lado, o economista esperava uma alta nos investimentos mas não se concretizou.
“O consumo das famílias é o que sustenta o PIB, mas também é o motivo da taxa de juros permanecer elevada. Já o consumo do governo caiu 0,6%. Ou seja, na parte do governo, fica muito claro que o gasto está sendo muito focado na parte de custeio e não de investimento.”, explicou. Ele projeta crescimento de 1,8% para o PIB em 2025, abaixo dos 2% estimados anteriormente.
Allan Gallo, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, avalia que a perda de dinamismo decorre principalmente de fatores internos. “O país convive hoje com juros reais próximos de 10% ao ano, o que estrangula o crédito e desestimula investimentos. A narrativa de que a desaceleração vem do cenário internacional não se sustenta, o maior freio é interno, com expansão de despesas correntes e fragilidade fiscal”, afirmou.
Leonardo Costa, economista do ASA, destacou a recuperação da indústria e dos serviços, apesar da desaceleração no agregado. “A queda do investimento e o fim do impulso da safra explicam o resultado mais fraco. Mas, olhando para a margem, indústria e serviços mostraram aceleração, com destaque para extrativas e transporte”, disse. O ASA mantém projeção de 2,2% de crescimento do PIB em 2025.

Selic trava crescimento do PIB
Na avaliação de André Matos, CEO da MA7 Negócios, a taxa Selic é um dos principais fatores de contenção. “Juros a 15% ao ano funcionam como freio. Seguram a inflação, mas reduzem consumo e investimentos. Para o mercado, isso significa renda fixa atrativa e renda variável sob pressão”, afirmou.
Carlos Braga Monteiro, CEO do Grupo Studio, também vê perda de fôlego. “O PIB avançou 0,4%, mas abaixo do ritmo de 1,4% no início do ano. O resultado indica que a economia perdeu velocidade, com retração da agropecuária e crédito caro impactando o consumo e os investimentos”, analisou.
Perspectivas para o PIB de 2025
Os especialistas convergem no ponto em que a economia deve crescer em torno de 2% em 2025, mas com trajetória de desaceleração no segundo semestre. O consumo das famílias segue sustentando a atividade, porém a queda dos investimentos e os juros altos impõem limites ao crescimento.
Além disso, o ambiente internacional incerto, marcado pelas políticas tarifárias dos Estados Unidos e pela reação do governo brasileiro, adiciona volatilidade às perspectivas. Para os especialistas, o maior desafio segue sendo interno: a política fiscal e o nível elevado de juros continuarão determinando o ritmo da economia.