Em Goa, na Índia, famílias como os Gamkars mantêm viva a tradição de 500 anos da produção de Feni. Este licor raro é feito a partir do pseudofruto do caju em um processo quase inteiramente manual, que resiste ao tempo e à modernidade.
Como o caju se transforma em um licor destilado?
O processo começa com a colheita dos cajus que caíram naturalmente, um sinal de que estão maduros. A família Gamkar então esmaga os frutos com botas pesadas em um tanque de pedra para extrair o suco, que é depois prensado com pedras durante a noite para não desperdiçar uma gota.

O suco fermenta por até três dias antes de ser destilado em um alambique de cobre vedado com uma pasta de argila de cupinzeiro, um segredo local para uma selagem perfeita. A primeira destilação gera o Urrack, uma bebida mais fraca, e uma segunda destilação a refina até se tornar o Feni, com 45% de álcool.
Etapas do processo artesanal:
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Colheita manual dos frutos maduros.
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Esmagamento com os pés para extração do suco.
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Fermentação natural por 2 a 3 dias.
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Dupla destilação em alambique de cobre.
Qual a conexão do Feni com o Brasil?
A história do Feni tem uma ligação direta com o Brasil. O caju é uma fruta nativa do território brasileiro e foi levado para a Índia pelos portugueses no século XVI. Os goeses, que já dominavam a arte da destilação com a seiva de palmeira, adaptaram a técnica para a nova e abundante fruta.
Para aprofundar a sua visão sobre técnicas ancestrais de destilação, selecionamos novamente o conteúdo do canal Business Insider. No vídeo a seguir, os especialistas detalham visualmente como uma família em Goa preserva a tradição de 500 anos na fabricação do Feni, um licor de caju raro feito através do esmagamento manual dos frutos e destilação em potes de cobre:
Essa jornada do caju destaca a importância global dos produtos agrícolas brasileiros, cuja produção é monitorada por órgãos como o IBGE. A preservação de saberes tradicionais, como o da família Gamkar, é um desafio compartilhado por instituições como o IPHAN no Brasil, que luta para proteger o patrimônio cultural imaterial.
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Quais são os desafios para manter a tradição viva?
O futuro da produção de Feni artesanal é incerto. O trabalho é fisicamente exaustivo e o retorno financeiro é baixo, com uma família faturando cerca de 700 dólares por temporada, o que desestimula as gerações mais novas a continuarem o ofício.
Fora de Goa, o Feni ainda sofre com o estigma de ser um “licor do campo”, considerado inferior. No entanto, marcas modernas estão trabalhando para mudar essa percepção, levando a bebida para o mercado de luxo e mostrando seu valor cultural e sensorial.
Principais desafios enfrentados:
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Baixa rentabilidade financeira.
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Trabalho físico intenso e êxodo rural.
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Estigma de “bebida inferior” fora de Goa.
Como a produção artesanal se compara à industrial?
Enquanto o método da família Gamkar é lento e produz pequenos lotes com características únicas, a produção industrial está crescendo. Novas marcas estão investindo em tecnologia e marketing para alcançar um público maior, usando técnicas como o envelhecimento de garrafas debaixo d’água.
Essa modernização ajuda a popularizar a bebida, mas também ameaça o modo de vida das pequenas famílias produtoras. A tabela abaixo compara as duas abordagens, mostrando o contraste entre a tradição e a busca por escala comercial.
| Característica | Produção Tradicional (Família Gamkar) | Produção Moderna (Marcas de Luxo) |
| Método | 100% manual, com técnicas ancestrais. | Híbrido, com inovações em envelhecimento e marketing. |
| Escala | Pequenos lotes, cerca de 175 litros por temporada. | Produção em maior escala para exportação. |
| Objetivo | Subsistência familiar e preservação da cultura. | Conquistar o mercado global de bebidas de luxo. |