A desaceleração da inflação em outubro foi explicada principalmente pela queda em alimentação e bebidas (-0,02%), que recuaram pelo quinto mês consecutivo, com deflação em carnes, arroz e leite, enquanto frutas e óleo de soja registraram altas moderadas. O movimento compensou pressões em energia elétrica e serviços, resultando em um dado mais benigno do que o previsto pelo mercado.
O IPCA-15 de outubro avançou 0,18%, abaixo do consenso de +0,24% e desacelerando frente ao aumento de 0,48% em setembro. Em 12 meses, a inflação ficou em 4,94%, também abaixo da estimativa mediana de 5,02% e do nível anterior de 5,32%. O resultado reforça o alívio gradual nas pressões de preços, embora analistas mantenham atenção a riscos pontuais nos próximos meses.
Alimentos e energia definiram o ritmo do índice
Segundo o economista Leonardo Costa, da ASA Investments, o resultado foi impulsionado pelo comportamento mais favorável dos alimentos. “O IPCA de outubro registrou alta de 0,18%, abaixo das projeções da ASA (+0,24%) e da mediana Broadcast (+0,24%). A surpresa baixista veio sobretudo de alimentação no domicílio, com deflação mais intensa em carnes e recuo em itens in natura, compensando pressões esperadas em energia elétrica e serviços”, afirmou.
Os núcleos da inflação também mostraram fraqueza. “A média dos núcleos avançou 0,22%, também abaixo do esperado. A surpresa negativa foi mais espalhada, com queda nos bens industrializados, principalmente em artigos de residência, e arrefecimento do núcleo de serviços, marcado por nova deflação no seguro de veículos”, completou Costa.
Entre os grupos, habitação subiu 0,16%, com queda de 1,09% na energia elétrica residencial, revertendo parte da alta anterior causada pela bandeira vermelha. Já transportes (+0,41%) e despesas pessoais (+0,42%) contribuíram positivamente, impulsionados pelos combustíveis (+1,16%), especialmente o etanol (+3,09%) e a gasolina (+0,99%), além das passagens aéreas (+4,39%).
Para Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, o resultado de outubro confirma o avanço de um processo estrutural de desaceleração inflacionária, apesar de pressões pontuais. “O IPCA-15 variou 0,18%, frente à projeção da Ativa de 0,14% e à mediana do mercado de 0,21%. Nossa surpresa altista foi concentrada em energia elétrica (+4 bps), aluguel residencial (+2 bps) e gasolina (+2 bps)”, explicou.
Ele observa que o comportamento dos itens monitorados explica boa parte da diferença entre o número efetivo e a projeção da casa. “Na contramão, artigos de residência vieram 2 bps abaixo do projetado, assim como seguro voluntário de veículo e conserto de automóveis. Com a surpresa altista concentrada em energia e combustíveis, os núcleos acabaram nos surpreendendo para baixo, denotando um comportamento estruturalmente benigno do índice de inflação.”
A média dos núcleos, segundo Sanchez, variou 0,22%, abaixo da expectativa de 0,27%. “Surpreendentemente, os serviços subjacentes variaram 0,24%, ante nossa projeção de 0,39%. No acumulado em doze meses, já é possível ver o processo de desaceleração do índice cheio, das aberturas, da agregação e dos núcleos, o que é acentuado pela queda na difusão.”
O economista reforça que o cenário otimista da Ativa para o próximo ano permanece. “Nossa perspectiva de 4,2% para o IPCA de 2025 vai se consolidando, avaliação preliminar que não deve se alterar”, concluiu.
Inflação menor abre espaço para corte de juros?
Na avaliação de Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, a leitura de outubro reforça o cenário de descompressão dos preços e pode aumentar a confiança do Banco Central em seguir com o ciclo de flexibilização monetária. “A inflação veio um pouco abaixo do que o mercado esperava. A difusão caiu de 53 para 50,9, o que significa menos itens subindo ao mesmo tempo”, afirmou.
Cruz, no entanto, pondera que alguns componentes seguem exigindo atenção. “A parte de serviços, que o Banco Central e o mercado olham com mais cuidado, acelerou um pouco, de 0,12% para 0,37%. O que puxou a inflação foi passagem aérea e gasolina, mas como a Petrobras já reduziu preços, talvez essa pressão se dilua no fechamento de outubro.”
Ele destaca que, caso o movimento de desaceleração persista, “há espaço para o BC indicar um corte de juros em breve”. Contudo, ele lembra que “há riscos fiscais e regulatórios no radar, como a discussão sobre taxação de bets, que pode trazer novos impactos de preços sobre a cesta de consumo”.
De forma geral, os economistas apontam que o resultado de outubro reforça uma tendência consistente de alívio inflacionário, mas ainda com possíveis oscilações pontuais. Leonardo Costa, da ASA, avalia que “foram dois meses consecutivos de núcleo de serviços mais fracos, o que é meritório e indica algum alívio das pressões subjacentes, mas parte desse movimento reflete fatores temporários”.
Com projeções variando entre 4,2% e 4,8% para o IPCA de 2025, o consenso entre analistas é de que a trajetória da inflação tende a permanecer sob controle, apoiada pela melhora nos núcleos e pela redução da difusão. A combinação desses fatores consolida o cenário de desaceleração gradual e amplia as apostas por novos cortes na taxa Selic nos próximos meses.
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