As projeções do Boletim Focus, divulgadas nesta segunda-feira (27), pelo Banco Central indicam que o cenário econômico brasileiro caminha para uma trajetória de menor pressão inflacionária e leve recuperação da confiança. Segundo o levantamento, o IPCA esperado para este ano caiu de 4,70% para 4,56%, marcando a quinta semana consecutiva de ajuste para baixo. A estabilidade das expectativas em outros indicadores-chave, como câmbio e juros, sugere que o mercado começa a enxergar um período de maior previsibilidade na política monetária.
Para o economista Maykon Douglas, o IPCA-15, divulgado na semana passada, referente ao mês de outubro, apresentou uma composição favorável. “Os serviços subjacentes se aceleraram menos que o esperado pelo mercado, apesar dos níveis ainda elevados, a energia elétrica registrou deflação. O economista aponta que a redução do preço da gasolina pela Petrobras vai ajudar o índice.
Para ele, isso não altera a perspectiva de que o Copom deve manter os juros elevados no restante do ano, até que esses sinais de desinflação se disseminem consistentemente, sobretudo nas expectativas mais longas. Mas destaca que a inflação corrente um pouco mais benigna e a queda gradual das expectativas são bons sinais para a política monetária. “Isso ajuda a vislumbrar um posterior afrouxamento monetário, à medida que a desaceleração da atividade se mantém. Na minha opinião, o Copom deve cortar os juros a partir de março de 2026.“, avalia.
O que dizem os números do relatório Focus?
O Relatório Focus projeta um crescimento de 2,16% para o PIB em 2025 e câmbio em torno de R$ 5,41 por dólar. O cenário indica uma economia em expansão moderada, sustentada principalmente pelo consumo das famílias e pela recuperação de segmentos industriais estratégicos. Apesar do viés positivo, o otimismo segue limitado. A combinação entre juros elevados e endividamento crescente continua restringindo o crédito produtivo e a disposição das empresas em investir, fatores que travam uma retomada mais vigorosa da atividade.
Os números também reforçam a trajetória de desaceleração da inflação. As projeções para o IPCA recuaram em todos os horizontes:
- 2026, a estimativa passou de 4,27% para 4,20%;
- 2027, caiu de 3,83% para 3,82%;
- 2028, foi ajustada de 3,60% para 3,54%.
A taxa Selic, por sua vez, permanece em 15% ao ano em 2025, refletindo uma postura mais cautelosa do Copom diante das pressões fiscais internas e do ritmo gradual de recuperação da economia. A partir de 2026, o mercado projeta cortes graduais, com a taxa básica chegando a 12,25% e depois a 10,5% em 2027. Para 2028, a expectativa é de estabilização em torno de 10%, o que representaria um retorno ao nível considerado neutro no médio prazo e abriria espaço para uma política monetária mais favorável ao crescimento.
Focus no radar: como o cenário externo influencia as expectativas?
O ambiente internacional também tem sido determinante para o comportamento dos preços e do câmbio no Brasil. A valorização do dólar no cenário global, somada à desaceleração do comércio internacional, pressiona países emergentes, mas o Brasil mantém um diferencial de juros atrativo, o que ajuda a sustentar o real. A moeda americana é projetada em R$ 5,41 para o fim do ano, com estabilidade nos anos seguintes, o que reforça a percepção de que a taxa de câmbio tende a se manter controlada.
Além disso, o relatório focus destacou que a conta corrente deve fechar 2025 com déficit de US$ 70,8 bilhões, o que representa uma deterioração em relação ao número anterior. Por outro lado, o saldo da balança comercial continua positivo, estimado em US$ 62 bilhões, impulsionado pela demanda externa por commodities agrícolas e minerais. Essa combinação mostra que, embora o país siga importando mais bens de capital, o setor exportador permanece sendo um pilar de estabilidade macroeconômica.
O ajuste fiscal tem impacto nas projeções de crescimento?
As expectativas fiscais continuam a inspirar cautela. O Focus aponta para um resultado primário de -0,5% do PIB em 2025 e uma dívida líquida que deve atingir 65,8% do PIB, subindo gradualmente para mais de 76% até 2028. Essa trajetória reforça o desafio do governo em conciliar despesas crescentes com a necessidade de manter o arcabouço fiscal crível.
Por outro lado, o mercado mantém algum otimismo com a possibilidade de melhora gradual nas contas públicas. A expectativa é de que a arrecadação continue favorecida por setores ligados ao consumo e ao comércio exterior, o que pode aliviar parcialmente o desequilíbrio fiscal. O comportamento da dívida e do resultado nominal, que hoje está em torno de -8,5% do PIB, será um dos principais pontos observados pelo mercado nos próximos meses.
O que esperar para o fim de 2025
Para os próximos meses, o cenário traçado pelos analistas é de estabilidade com viés de melhora. A inflação acumulada em 12 meses deve ficar próxima de 4%, enquanto a atividade econômica mantém ritmo moderado, sustentada pela reabertura de linhas de crédito e pelo desempenho positivo das exportações. O otimismo, porém, depende da manutenção de um ambiente fiscal controlado e da credibilidade do Banco Central.
Em resumo, o mercado vê 2025 como um ano de transição. O país parece deixar para trás o ciclo de choques inflacionários, mas ainda carrega incertezas fiscais e estruturais. A estabilidade da Selic e a desaceleração dos preços podem indicar um equilíbrio mais sólido à frente, mas a retomada sustentável do crescimento continuará dependendo de disciplina fiscal e de confiança na condução da política econômica.