O Boletim Focus desta semana trouxe um conjunto de projeções que aponta para maior estabilidade da política monetária em 2026, ao mesmo tempo em que afasta a hipótese de cortes antecipados da Selic. O relatório mostrou recuo das expectativas de inflação e leve alta nas projeções de juros para o período, movimento que reforça a leitura de cautela do mercado diante do cenário fiscal e dos próximos indicadores de preços.
A estimativa de IPCA para 2026 caiu, enquanto a Selic projetada avançou de 12,00% para 12,25%, sinalizando que, embora haja confiança na desinflação, o ritmo de afrouxamento monetário deve ser mais lento. As revisões ocorrem às vésperas de novos dados do IPCA e da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), que ajudarão a calibrar as apostas para o início de 2026.
Mercado vê confiança no BC, mas projeta ciclo de cortes mais gradual
Para André Matos, CEO da MA7 Negócios, o Focus reforça um ambiente de menor incerteza. “Quando vemos inflação e juros projetados recuando de forma consistente, isso indica confiança na capacidade do Banco Central de conduzir a política monetária com estabilidade. Esse tipo de sinalização reduz incertezas e cria um ambiente mais previsível para decisões de investimento”, afirma.
A leitura é semelhante à de Edgar Araújo, CEO da Azumi Investimentos, para quem o conjunto dos dados aponta disciplina nas expectativas. “O mercado confia que o Banco Central manterá o ciclo de desinflação e preservará a estabilidade dos juros em 2026. A previsibilidade da curva orienta estratégias de risco e precificação de crédito”, analisa.
Impacto direto no crédito e nas decisões das empresas
Segundo Volnei Eyng, CEO da Multiplike, a revisão da Selic projetada mostra que o mercado aposta em cautela, ainda que a inflação futura esteja em queda. “A projeção de inflação recuou, mas a Selic esperada subiu. Isso revela que o processo de cortes deve ser mais lento, especialmente diante das preocupações fiscais”, explica. Para ele, empresas tendem a ajustar prazos, reavaliar risco e planejar crédito de forma mais conservadora.
O movimento também afeta a percepção de risco na renda fixa e na renda variável. De acordo com Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, a queda das projeções de inflação ajuda a ancorar expectativas, mas o custo do capital permanece elevado. “Com Selic ainda alta, a atratividade relativa da renda fixa diminui aos poucos, enquanto setores cíclicos podem ganhar fôlego conforme o cenário de juros se estabiliza”, afirma.
Previsibilidade favorece startups, venture capital e mercado de capitais
No universo de inovação, a maior estabilidade da curva é vista como fator de apoio às teses de investimento. João Kepler, CEO da Equity Group, afirma que previsibilidade é determinante para valuation e planejamento de rodadas. “Um ambiente estável reduz incertezas sobre custo de capital e permite decisões de longo prazo mais técnicas”, diz.
Antonio Patrus, diretor da Bossa Invest, destaca que o venture capital responde rapidamente aos sinais do Focus. “Inflação menor e juros estabilizados melhoram a percepção de risco do ecossistema e ampliam a capacidade de planejar expansão”, aponta.
Crédito estruturado ganha relevância com curva mais estável
Para Pedro Da Matta, CEO da Audax Capital, e Richard Ionescu, CEO do Grupo IOX, a estabilidade das projeções de juros melhora a precificação e estruturação de operações de crédito alternativo. “A previsibilidade permite calibrar prazos e spreads com mais precisão, o que fortalece o crédito estruturado”, diz Da Matta.
Gustavo Assis, CEO da Asset Bank, reforça que o Focus funciona como uma referência técnica para o setor. “A estabilização da curva permite ajustar modelos de risco e estruturar FIDCs com maior aderência ao fluxo financeiro das empresas”, afirma.
Planejamento patrimonial e gestão empresarial também respondem ao Focus
Para Jorge Kotz, CEO da Holding Grupo X, a estabilidade projetada ajuda gestores a estruturar margens, estratégias e orçamentos com mais segurança. “Quando o horizonte dos juros deixa de oscilar, a tomada de risco empresarial se torna mais técnica”, afirma.
Pedro Ros, CEO da Referência Capital, destaca que previsibilidade é crucial para planejamento de crédito e formação de patrimônio. “A combinação de IPCA revisado para baixo e Selic estável reforça a leitura de que 2026 deve ser um ano de maior clareza para decisões financeiras”, diz.
No mercado de ETFs, Fabio Murad, CEO da Spacemoney Investimentos, afirma que a estabilidade da curva reduz a necessidade de movimentos defensivos. “Com a curva ancorada, o investidor consegue reequilibrar carteira com maior racionalidade”, afirma.













