As projeções do Boletim Focus desta semana reforçam a leitura de que o mercado financeiro espera um cenário mais estável para 2026, com inflação em desaceleração e juros futuros ancorados. Economistas e gestores consultados avaliam que o ambiente tende a favorecer o planejamento de empresas, investidores e operações de crédito, embora a expectativa predominante seja de que um ciclo mais consistente de redução da Selic aconteça apenas a partir de 2028.
Segundo Volnei Eyng, CEO da Multiplike, a inflação segue perdendo força de forma gradual, acompanhada pela queda de preços no atacado e nos contratos indexados ao IGP-M. Para ele, o mercado já trabalha com a hipótese de que os juros devem permanecer elevados por um período prolongado. “A Selic deve ficar alta por mais tempo, com queda mais consistente só mais adiante, perto de 2028”, afirma.
Previsibilidade melhora planejamento patrimonial e decisões de crédito
A leitura de estabilidade apresentada pelo Focus tem impacto direto no planejamento financeiro de famílias e empresas. Para Pedro Ros, CEO da Referência Capital, a desaceleração da inflação combinada com juros projetados de forma estável cria um ambiente mais favorável para decisões de longo prazo. “Previsibilidade reduz incertezas e permite decisões estruturadas envolvendo crédito, metas patrimoniais e ciclos longos de investimento”, avalia.
No mercado corporativo, a previsibilidade da curva futura também contribui para decisões operacionais. Eyng destaca que empresas devem monitorar liquidez, alongar prazos quando o custo for adequado e revisar contratos indexados a IPCA e IGP-M. “Com demanda moderada, estoques e capital de giro precisam ser ajustados. O cenário favorece quem planeja e busca crédito com antecedência”, diz.
Juros projetados influenciam risco, alocação e estratégia de empresas
A visão de um ambiente mais equilibrado nos próximos anos também repercute no mercado de capitais. Para Edgar Araújo, CEO da Azumi Investimentos, o Focus orienta decisões de risco e influenciam a precificação de crédito e a gestão de liquidez. “Com a Selic futura em 12%, o juro real segue elevado, exigindo análises técnicas, mas abrindo oportunidades para produtos de crédito, renda fixa e estruturas híbridas”, diz.
Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, afirma que a combinação de inflação menor e juros estáveis reduz volatilidade na precificação de ativos. “A curva previsível redefine premissas de valuation e apoia decisões de posicionamento na bolsa”, afirma.
Venture capital e startups ganham visibilidade com curva estável
Para segmentos ligados a inovação e tecnologia, a previsibilidade da política monetária também exerce influência direta. Segundo Antonio Patrus, diretor da Bossa Invest, a Selic projetada em 12% e o recuo do IPCA são fatores que melhoram valuations e atraem liquidez. “Quando o investidor sabe onde estará a taxa real daqui a dois anos, ele decide melhor hoje. Startups dependem dessa visibilidade para acelerar”, afirma.
Nesse mesmo sentido, João Kepler, CEO da Equity Group, avalia que a estabilidade da curva permite operações mais técnicas no capital de risco. “Com previsibilidade, o ecossistema consegue planejar aportes e definir valuation com critérios mais consistentes”, diz.
Crédito estruturado ganha eficiência com expectativas ancoradas
No mercado de crédito alternativo, a leitura de estabilidade também fortalece operações de longo prazo. Para Richard Ionescu, CEO do Grupo IOX, e Pedro Da Matta, CEO da Audax Capital, o Focus funciona como parâmetro de formação de preços e definição de spreads. “Projeções estáveis permitem calibrar garantias, prazos e taxas com maior precisão”, afirma Ionescu. Da Matta destaca que a previsibilidade amplia a expansão do crédito estruturado “com maior aderência ao fluxo financeiro das empresas”.
Gustavo Assis, CEO da Asset Bank, reforça que a curva estável reduz a necessidade de ajustes bruscos e favorece operações mais técnicas, especialmente em FIDCs. “Quando o custo do capital é previsível, a ponte entre quem precisa de crédito e quem busca retorno é mais eficiente”, avalia.
Investidores buscam alocação mais racional em renda fixa e bolsa
O ambiente de maior estabilidade também influencia a alocação de portfólio. Para Fábio Murad, CEO da Spacemoney Investimentos, previsibilidade melhora o cálculo de retorno esperado e reduz a necessidade de movimentos defensivos. “A curva estável facilita o equilíbrio entre renda fixa, bolsa e índices internacionais, tornando a alocação de longo prazo mais precisa”, afirma.
Empresas ganham horizonte mais claro para decisões estratégicas
A leitura de estabilidade também repercute no ambiente corporativo. Para Jorge Kotz, CEO da Holding Grupo X, a previsibilidade da política monetária orienta decisões de preço, fluxo de caixa e expansão. “Ter clareza sobre o custo do dinheiro faz diferença direta no ritmo de execução e na organização das equipes”, afirma.
Já Gabriel Padula, CEO do Grupo Everblue, destaca que a continuidade da desaceleração inflacionária melhora o ambiente de planejamento. “A previsibilidade da curva ajuda a estruturar investimentos e precificar operações com maior precisão”, diz.
Com inflação projetada em queda e juros futuros estáveis, o mercado interpreta que o Banco Central conseguiu ancorar expectativas para os próximos anos. Para especialistas, o cenário reduz volatilidade e amplia a capacidade de planejamento de empresas, investidores e gestores, embora a queda mais profunda dos juros continue concentrada nas projeções a partir de 2028.
















