O relatório Focus desta semana, divulgado pelo Banco Central, mostra que o mercado financeiro manteve a projeção da taxa Selic em 15% ao ano e reduziu levemente a estimativa de inflação (IPCA) para 4,7% em 2025. A expectativa para o crescimento do PIB avançou marginalmente, de 2,16% para 2,17%.
O levantamento indica continuidade da tendência de desinflação, enquanto a política monetária permanece em patamar restritivo. O cenário reflete a busca por ancoragem das expectativas de preços e maior previsibilidade nas projeções fiscais.
O que mudou nas projeções?
O PIB passou de 2,16% para 2,17%, mostrando leve melhora nas perspectivas de crescimento. O economista Maykon Douglas, destaca que o mercado revisou ligeiramente para cima suas projeções para o PIB deste ano. No entanto, se for considerada a média dos últimos cinco dias úteis em vez da métrica tradicional, últimos 30 dias úteis, a mediana voltou a superar o patamar de 2,2%.
“Essa revisão em relação ao último Focus deve refletir o resultado do varejo ampliado, divulgado na semana passada. O índice mostrou um desempenho melhor que o esperado para o varejo mais sensível ao crédito, principalmente em relação ao possível efeito das políticas expansionistas do governo“.
Para o economista, tais medidas dão suporte à atividade e amortecem a desaceleração decorrente dos juros altos. “Por isso, tenho mantido minha projeção para o PIB deste ano (+2,2%) ao longo dos últimos meses“, projeta.
Para o IPCA, em relação à semana anterior, a expectativa caiu de 4,72% para 4,70%, marcando quatro semanas seguidas de revisão para baixo. O economista destaca para queda nos quatro vértices do Focus (2025 a 2028), o que acontece pela primeira vez desde o fim de agosto deste ano. “É um movimento que precisa ser consistente nas próximas semanas para que o horizonte fique menos turbulento ao Banco Central e se possa vislumbrar cortes de juros“, avalia.
Já o câmbio foi mantido em R$ 5,45 por dólar, e o IGP-M apresentou nova redução, de 0,95% para 0,87%. O indicador de preços ao produtor acumula seis semanas de quedas consecutivas, refletindo desaceleração no atacado.
Expectativas fiscais e externas
O déficit em conta corrente foi revisado para -US$ 69,5 bilhões, enquanto a balança comercial recuou para US$ 61,15 bilhões. Apesar da leve piora nos números de curto prazo, o mercado projeta melhora gradual das contas externas até 2028.
Na frente fiscal, a dívida líquida do setor público deve encerrar 2025 em 65,77% do PIB, subindo para 76,05% até 2028. O resultado primário permanece negativo, mas tende à redução do déficit, passando de -0,50% para -0,12% do PIB no horizonte de quatro anos.
Panorama até 2028
As projeções de médio prazo indicam inflação convergindo para o centro da meta, estabilidade no câmbio e crescimento do PIB próximo a 2%. A dívida pública segue em trajetória ascendente, e a expectativa de redução de juros depende da consolidação fiscal e da desaceleração dos preços administrados.
Indicador | 2025 | 2026 | 2027 | 2028 | Tendência |
---|---|---|---|---|---|
IPCA (variação %) | 4,70 | 4,27 | 3,83 | 3,60 | 🔽 queda gradual da inflação |
PIB Total (variação %) | 2,17 | 1,80 | 1,82 | 2,00 | 🔽 leve desaceleração em 2026 |
Câmbio (R$/US$) | 5,45 | 5,50 | 5,51 | 5,56 | ➖ estabilidade |
Selic (% a.a.) | 15,00 | 12,25 | 10,50 | 10,00 | 🔽 trajetória de corte gradual |
Com base nas projeções do Focus, o mercado reforça a percepção de um cenário de estabilidade monetária no curto prazo e cautela quanto à sustentabilidade fiscal de longo prazo.