O Boletim Focus divulgado nesta segunda-feira (15) pelo Banco Central trouxe novas revisões nas expectativas do mercado para os principais indicadores macroeconômicos do país. As estimativas apontam continuidade do processo de desinflação, manutenção do crescimento econômico em 2025 e desafios persistentes no cenário fiscal e externo.
Segundo o relatório, a projeção para o IPCA de 2025 recuou para 4,36%, abaixo das estimativas registradas nas semanas anteriores. Para 2026, a inflação esperada caiu para 4,10%, enquanto as projeções para 2027 e 2028 permanecem em 3,80% e 3,50%, respectivamente. A leitura indica um processo gradual de convergência da inflação, ainda acima do centro da meta no curto prazo.
No curto prazo, o mercado também revisou para baixo as expectativas mensais. A projeção para o IPCA de dezembro de 2025 passou para 0,42%, reforçando a percepção de desaceleração dos preços ao final do ano.
Análise do Focus
Para o economista Maykon Douglas, os dados correntes continuam incompatíveis com um corte de juros pelo Copom na reunião de janeiro de 2026.
“Como comentei há alguns dias, os dados econômicos e de inflação mostram alguns sinais mistos. A demanda interna e o mercado de trabalho seguem resilientes, os preços dos serviços intensivos em trabalho ainda não apresentaram inflexão, e as expectativas de inflação para 2027 e 2028 se estagnaram. Logo, vejo um Copom mais confiante no processo de desinflação, mas não satisfeito o bastante”, destaca o economista.
Quanto aos juros, o economista destaca que a mediana das expectativas para a taxa Selic em 2026 caiu de 12,25% para 12,13%, aparentemente devido a um empate entre os participantes que projetam juros de 12,00% e 12,25% ao ano.
“A média móvel dos últimos cinco dias permanece em 12,25%, assim como estava no Focus anterior. Há, portanto, certa divisão no mercado em relação ao provável rumo da taxa Selic adiante. Minha projeção atual é de que o BC leve os juros a 12,25% ao ano em 2026.“, conclui.
PIB segue resiliente em 2025, mas perde fôlego nos anos seguintes, mostra Focus
As expectativas para a atividade econômica permanecem relativamente estáveis. O mercado manteve a projeção de crescimento do PIB em 2,25% em 2025, sinalizando resiliência da economia apesar do ambiente de juros ainda restritivo.
Para 2026, a estimativa de crescimento é de 1,80%, com leve recuperação em 2027 (1,83%) e aceleração moderada em 2028 (2,00%). O cenário reflete uma leitura de desaceleração cíclica, com crescimento mais dependente de fatores estruturais nos próximos anos.
Selic projetada em queda a partir de 2026
No campo da política monetária, o Focus manteve a Selic em 15% ao ano em 2025, sem alteração em relação às semanas anteriores. Para 2026, a taxa básica é projetada em 12,13%, com novas reduções esperadas para 10,50% em 2027 e 9,50% em 2028.
O movimento reflete a expectativa de que o Banco Central só terá espaço para um ciclo mais consistente de afrouxamento monetário à medida que a inflação mostre convergência mais clara e sustentável.
Câmbio segue em patamar elevado
As projeções para o câmbio permanecem estáveis, indicando percepção de risco estrutural. O mercado manteve a estimativa de R$ 5,40 por dólar em 2025 e R$ 5,50 entre 2026 e 2028.
A estabilidade em nível elevado reflete fatores como diferencial de juros, incertezas fiscais e cenário internacional ainda desafiador para moedas emergentes.
Fiscal segue como principal ponto de atenção
No campo fiscal, o Boletim Focus reforça um cenário de deterioração gradual das contas públicas. A dívida líquida do setor público deve alcançar 65,97% do PIB em 2025, avançando para 70,27% em 2026, 73,80% em 2027 e 76,00% em 2028.
O resultado primário permanece negativo em todo o horizonte projetado, com déficit de 0,50% do PIB em 2025 e 0,60% em 2026, ainda que haja alguma melhora a partir de 2027.
Já o resultado nominal segue pressionado, com déficit estimado em 8,40% do PIB em 2025, reduzindo gradualmente para 7,00% em 2028.
Setor externo mostra resiliência
No setor externo, o mercado projeta superávit comercial de US$ 62,85 bilhões em 2025, avançando para US$ 66,20 bilhões em 2026 e se mantendo em torno de US$ 70 bilhões nos anos seguintes.
A conta corrente, por outro lado, segue deficitária, com saldo negativo de US$ 73,45 bilhões em 2025, ainda que haja melhora gradual até 2028.
O Investimento Direto no País (IDP) permanece robusto, com expectativa de US$ 75 bilhões em 2025, sinalizando manutenção do interesse de investidores estrangeiros em ativos reais no Brasil.











