A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de manter a taxa de juros elevada era amplamente esperada, mas reforçou um ponto central do debate econômico: o avanço do risco fiscal tem limitado a eficácia da política monetária.
Para Fabrizio Velloni, economista da Frente Corretora, o Banco Central deixou claro que a postura contracionista seguirá enquanto o cenário fiscal continuar pressionando expectativas.
“O mercado sonhava com cortes já a partir de janeiro, mas o Banco Central está olhando para algo que o mercado preferiu ignorar: a deterioração fiscal”, afirma Velloni.
Segundo ele, mesmo com recordes de arrecadação, a incapacidade de reduzir gastos evidencia um desequilíbrio estrutural nas contas públicas.
Além do fiscal: ambiente político amplia o risco
Na avaliação do economista, o calendário eleitoral agrava esse quadro. Com eleições no horizonte, Executivo e Congresso tendem a ampliar despesas e evitar ajustes.
“Brasília vai continuar pressionando por gastos e muito menos pensar em cortes em 2026”, diz.
Nesse contexto, a manutenção dos juros elevados funciona como um mecanismo de proteção para sustentar o fluxo de capital e conter pressões cambiais. Para Velloni, o Banco Central adota uma postura prudente para evitar uma piora adicional no prêmio de risco do país.
Atividade resiliente apesar do aperto monetário
Apesar da política monetária restritiva, consumo e mercado de trabalho seguem relativamente fortes. Para o economista, isso ocorre porque o fiscal tem “anestesiado” o efeito dos juros.
“A injeção de capital artificial na economia aumenta o poder de consumo e gera uma sensação de crescimento”, explica.
Esse cenário reacende o debate sobre dominância fiscal, quando decisões de gasto reduzem a eficácia da política monetária. Segundo Velloni, políticas de transferência de renda e estímulos ao crédito sustentam a demanda no curto prazo, mas ampliam distorções no médio prazo.
Empresas começam a sentir o peso dos juros
Os impactos, segundo ele, tendem a aparecer nos balanços. O dispêndio financeiro começa a corroer a receita operacional das empresas, afirma, alertando para maior vulnerabilidade das companhias mais alavancadas e risco de ajuste na bolsa.
Para Velloni, se o ajuste fiscal não ocorrer por corte de gastos, tende a acontecer por meio da inflação.
“A inflação consome o poder de compra e reduz o giro econômico. 2026 deve ser o período mais crítico, com correções mais estruturais ficando para depois do ciclo eleitoral“, avalia.













