O FED anunciou nesta quarta-feira (10) um corte de 0,25 ponto percentual na taxa de juros dos Estados Unidos, levando o intervalo para 3,50% a 3,75%. A decisão já era amplamente esperada pelo mercado, e abre uma nova fase no ciclo monetário norte-americano após meses de debates sobre a desaceleração econômica e o comportamento da inflação.
A BM&C News fará cobertura ao vivo do discurso de Jerome Powell a partir das 16h, com análise e comentários de especialistas. Confira:
Cenário econômico: emprego enfraquece e inflação permanece elevada, aponta Fed
Segundo o FOMC, indicadores mais recentes confirmam um ambiente de atividade moderada. O comitê observa:
- crescimento econômico ainda positivo, porém moderado;
- ganhos de emprego mais lentos em 2025;
- elevação gradual da taxa de desemprego ao longo do ano;
- inflação em alta desde o início do ano, permanecendo “algo elevada”.
O colegiado afirma que busca, no longo prazo, máximo emprego e inflação de 2%, mas reconhece que a incerteza sobre o cenário econômico segue elevada. Além disso, destaca que os riscos negativos para o emprego aumentaram nos últimos meses, alterando o balanço de riscos que orienta a política monetária.
Comunicado reforça monitoramento contínuo e possibilidade de ajustes
O FOMC reiterou que está preparado para alterar a trajetória da política monetária caso riscos adicionais impeçam o cumprimento das metas de emprego e inflação. O comitê seguirá acompanhando:
- condições do mercado de trabalho;
- pressões inflacionárias;
- expectativas de inflação;
- condições financeiras;
- desenvolvimentos internacionais.
Essa postura indica que não há trajetória predefinida para novos cortes, tudo dependerá da evolução dos dados.
Fed volta a comprar Treasuries de curto prazo
Outro ponto importante do comunicado foi o anúncio de que o Federal Reserve voltará a comprar Treasuries de curto prazo, quando necessário, para manter um nível “amplo” de reservas bancárias.
O comitê afirma que os saldos de reservas caíram para patamar considerado adequado, e as compras serão acionadas conforme necessário para preservar o bom funcionamento do sistema financeiro.
Decisão não foi unânime: divisão clara no FOMC
O corte de 0,25 p.p. não contou com unanimidade. Os votos foram distribuídos da seguinte forma:
Votaram a favor da redução de 0,25 p.p.:
- Jerome Powell, Chair
- John C. Williams, Vice Chair
- Michael S. Barr
- Michelle W. Bowman
- Susan M. Collins
- Lisa D. Cook
- Philip N. Jefferson
- Alberto G. Musalem
- Christopher J. Waller
Votos contrários (3 dissensos):
- Stephen Miran, defendeu corte maior, de 0,50 p.p.;
- Austan Goolsbee, preferia manter a taxa inalterada;
- Jeffrey Schmid, também defendia nenhuma mudança.
Essa composição mostra divergência relevante no comitê: parte considera que a economia exige estímulo mais agressivo, enquanto outra avalia que cortar juros neste momento não seria apropriado diante da inflação ainda elevada.
Análise de Gustavo Cruz: a divisão do Fed e o componente político que deve marcar 2026
Para Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, o ponto mais relevante da decisão não foi apenas o corte de 0,25 p.p., mas a divergência explícita dentro do comitê e o sinal político que começa a ganhar espaço na condução da política monetária americana.
Ele destaca que, apesar do receio do mercado de um comunicado excessivamente “hawkish”, o FOMC mostrou um quadro misto: parte dos dirigentes defenderam manutenção e até alta dos , enquanto outro grupo vê espaço para reduções mais agressivas.
Cruz chama atenção especial para o voto de Stephen Miran, indicado pelo governo Trump, que novamente defendeu um corte maior, de 0,50 p.p., e projetou juros em 2% já no próximo ano, alinhado ao discurso público do presidente.
“Esse posicionamento é um indicativo do que pode ocorrer com o novo comando do Fed em 2026, quando a influência política pode pesar mais nas discussões internas”, destacou Cruz.
Ele ressaltou ainda revisões importantes nas projeções: alta do PIB para 2026 (de 1,8% para 2,3%) e redução da inflação projetada (de 2,6% para 2,4%), fatores que tornam mais plausíveis cortes adicionais abaixo de 3%, caso a produtividade, impulsionada pela adoção de inteligência artificial, avance como esperado.
“O debate de 2026 será diferente: não será apenas técnico, será também político”, conclui Cruz.
*Em atualização

