Os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Donald Trump devem se reunir no próximo domingo (26), na capital da Malásia, durante a cúpula da Asean (Associação de Nações do Sudeste Asiático). O encontro vem sendo articulado há semanas por integrantes dos governos do Brasil e dos Estados Unidos e será o primeiro diálogo bilateral pessoalmente desde a breve interação entre os dois líderes na Assembleia Geral da ONU, em Nova York.
A expectativa é de que o encontro tenha caráter diplomático, mas com potencial de impacto econômico relevante. O mercado acompanha de perto as discussões sobre a possível reversão das tarifas impostas por Washington a produtos brasileiros, como café e minérios, e o reposicionamento do Brasil nas relações comerciais globais.
Diálogo entre Lula e Trump pode fortalecer a confiança de investidores
Para Volnei Eyng, CEO da Multiplike, a reunião deve ser positiva tanto no campo político quanto econômico. “Os Estados Unidos têm interesse nas terras raras do Brasil, no café e em outros produtos que impactam a inflação americana. Já o Brasil tem interesse em eliminar as tarifas, especialmente sobre o café e outros itens. A pauta mostra um alinhamento entre os dois países”, afirmou.
Segundo o executivo, apesar das diferenças ideológicas entre Lula e Trump, as medidas adotadas por ambos na condução de seus governos têm sido semelhantes em temas econômicos. “Uma reaproximação pode fortalecer a confiança dos investidores estrangeiros, reduzir ruídos diplomáticos e sinalizar que o Brasil busca uma posição internacional mais estratégica, voltada à previsibilidade e ao crescimento das exportações”, completou Eyng.
Encontro entre Lula e Trump tem caráter diplomático, mas sem grandes definições
O CEO do Grupo Studio, Carlos Braga Monteiro, avalia que o encontro deve ter “caráter mais diplomático do que resolutivo”. Ele acredita que a pauta do tarifaço, que trata das tarifas aplicadas pelos Estados Unidos a produtos brasileiros, deve avançar no discurso, sinalizando reabertura do diálogo, mas sem garantias de reversão imediata.
“O gesto político tende a acalmar os ânimos e reforçar a disposição de cooperação bilateral, o que pode gerar leve otimismo no mercado, principalmente entre exportadores. Ainda assim, prevalece a cautela: o investidor seguirá aguardando ações concretas antes de ajustar projeções econômicas”, afirmou Monteiro.
Brasil precisa reposicionar sua política comercial
Para Richard Ionescu, CEO do Grupo IOX, o governo deve usar a reunião como ponto de virada para fortalecer a diplomacia econômica. “O tarifaço é um alerta de que o Brasil ainda depende demais de acordos bilaterais frágeis e de produtos de baixo valor agregado. A reação ideal não é retaliar, mas investir em crédito competitivo, inovação e integração com novos mercados”, disse.
O executivo reforçou que o mercado espera uma postura mais pragmática do governo. “O diálogo com Trump precisa ser transformado em oportunidade para reposicionar o Brasil no comércio global. O país deve buscar uma política externa menos ideológica e mais voltada ao desenvolvimento de longo prazo”, concluiu Ionescu.
Expectativas do mercado
Analistas avaliam que uma reaproximação entre Brasil e Estados Unidos pode gerar reflexos positivos sobre os ativos locais. A sinalização de estabilidade nas relações bilaterais tende a fortalecer a percepção de segurança jurídica, atrair novos investimentos e reduzir ruídos no ambiente diplomático.
O mercado, porém, mantém um tom de otimismo cauteloso. Embora a reunião seja vista como um gesto político relevante, investidores esperam avanços concretos em acordos comerciais, especialmente sobre tarifas e incentivos às exportações brasileiras.