O setor de energia elétrica brasileiro continua sendo uma das principais fontes de pressão sobre os preços. De acordo com a especialista Andrea Angelo, da Warren, “a recente Medida Provisória (MP) aprovada no Congresso, que amplia subsídios para a alta tensão, pode repassar custos à baixa tensão.” Esse movimento administrativo traz um mecanismo que visa mitigar os impactos ao impor um teto para a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), mas a eficácia na manutenção de preços ainda gera debate.
Angelo avalia que, apesar dos esforços, o efeito da MP tende a ser neutro para os anos de 2026 e 2027. “O setor continua volátil e a projeção atual indica bandeira amarela no fim de 2024 e ao longo de 2025“, destaca a especialista, ressaltando a relação com um cenário de chuvas irregulares que pode afetar a geração de energia.
Além da energia elétrica: mais detalhes sobre o IPCA
O Índice de Preços ao Consumido Amplo (IPCA) passou de 0,48% em setembro para 0,09% em outubro, um recuo de 0,39 ponto percentual. Esse resultado é o menor para um mês de outubro desde 1998, quando foi registrado 0,02%. No ano, a inflação acumula alta de 3,73% e, nos últimos 12 meses, o índice ficou em 4,68%. Em outubro de 2024, a variação havia sido de 0,56%. Os resultados foram divulgados hoje (11) pelo IBGE.
Na composição do IPCA de outubro, interrompendo uma sequência de quedas, o grupo alimentação e bebidas, que possui o maior peso na estrutura do indicador, apresentou praticamente estabilidade na média de preços, variando 0,01%. O índice não exerceu pressão no resultado geral da inflação e é o menor resultado para um mês de outubro desde 2017, quando foi de -0,05%. A alimentação no domicílio caiu 0,16%, com destaque para as seguintes quedas do arroz (-2,49%) e do leite longa vida (-1,88%). Dentre as altas, estão a batata-inglesa (8,56%) e o óleo de soja (4,64%).
As categorias
Já a alimentação fora do domicílio acelerou na passagem de setembro (0,11%) para outubro (0,46%). Em igual período, o subitem lanche saiu de 0,53% para 0,75%, e a refeição foi de -0,16% para 0,38%.
O grupo Vestuário (0,51%) apresentou a maior variação no mês de outubro, com destaque para as altas nos calçados e acessórios (0,89%) e na roupa feminina (0,56%). No grupo Despesas pessoais (0,45%), o destaque é para o subitem empregado doméstico, que subiu 0,52% e o pacote turístico com alta de 1,97%.
Saúde e cuidados pessoais (0,41%) foi o grupo de maior impacto no índice, com 0,06 p.p., alta impulsionada pelos artigos de higiene pessoal (0,57%) e plano de saúde (0,50%). A variação de 0,11% de Transportes reflete a alta da passagem aérea (4,48%) e dos combustíveis (0,32%). À exceção do óleo diesel que caiu 0,46%, os demais combustíveis apresentaram variações positivas em outubro: etanol (0,85%), gás veicular (0,42%) e gasolina (0,29%).
Na análise regional, os índices apontam que a maior variação foi registrada em Goiânia (0,96%), impulsionada pela alta da energia elétrica residencial (6,08%) e da gasolina (4,78%). A menor variação (-0,15%) foi registrada em São Luís, em função da queda do arroz (-3,49%) e da gasolina (-1,24%), e em Belo Horizonte, com destaque para as quedas na gasolina (-3,97%) e na energia elétrica residencial (-2,71%).
Inflação “qualitativamente benigna”, destaca ASA
O economista do ASA, Leonardo Costa, afirmou que o IPCA de outubro veio abaixo da projeção da casa, de 0,15%, e também da mediana do mercado, de 0,14%. Ele observou que a principal surpresa foi a queda mais acentuada em alimentação no domicílio e energia elétrica, que contribuíram para o resultado benigno.
O economista mencionou que a média dos núcleos subiu 0,25%, abaixo das projeções, influenciada por deflações em itens veiculares. A inflação subjacente de serviços, segundo ele, continua desacelerando, com a média móvel de três meses passando de 4,7% para 4,3%. “O resultado como qualitativamente benigno e manteve a projeção de IPCA em 4,5% para 2025 e 2026, com viés de baixa no último ano“, avalia o economista.