O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu manter a taxa Selic em 15% ao ano. A decisão era amplamente esperada pelo mercado, diante de um cenário que ainda exige atenção sobre a trajetória da inflação e das condições econômicas domésticas.
A manutenção da Selic ocorre em um ambiente em que o mercado monitora a dinâmica da inflação, o desempenho da atividade econômica e o andamento das questões fiscais, fatores que continuam determinantes para as decisões futuras do Banco Central.
Cenário externo segue incerto
Segundo o Copom, o ambiente internacional continua marcado por incertezas relacionadas à conjuntura econômica global e às decisões de política econômica nos Estados Unidos. Esse quadro tem refletido nas condições financeiras externas e exige atenção adicional de economias emergentes, especialmente em um contexto de tensão geopolítica.
”O ambiente externo ainda se mantém incerto em função da conjuntura e da política econômica nos Estados Unidos, com reflexos nas condições financeiras globais. Tal cenário exige cautela por parte de países emergentes em ambiente marcado por tensão geopolítica“, destaca o comunicado.
Atividade doméstica mostra moderação
No cenário interno, o Comitê destacou que os indicadores apontam para uma trajetória de moderação no crescimento da atividade econômica, movimento observado na última divulgação do PIB. Apesar disso, o mercado de trabalho segue resiliente.
Expectativas seguem acima da meta
As expectativas de inflação coletadas pela pesquisa Focus continuam acima do centro da meta para os próximos anos:
4,4% em 2025,
4,2% em 2026.
A projeção de inflação do próprio Copom para o segundo trimestre de 2027, horizonte relevante para a política monetária, está em 3,2%.
Riscos elevados para os dois lados
O Comitê avaliou que os riscos para a inflação, tanto de alta quanto de baixa, permanecem mais elevados do que o usual.
Entre os vetores de alta, foram citados:
possibilidade de desancoragem prolongada das expectativas;
maior resiliência da inflação de serviços, em função de um hiato do produto mais positivo;
efeitos de políticas econômicas internas e externas que possam pressionar a taxa de câmbio.
Entre os riscos de baixa, o Copom destacou:
eventual desaceleração mais intensa da atividade doméstica;
desaceleração global associada ao choque de comércio internacional;
queda nos preços de commodities com impacto desinflacionário.
Influência do cenário fiscal e comercial
O Copom informou que segue monitorando os anúncios dos Estados Unidos sobre a imposição de tarifas comerciais ao Brasil, além da evolução da política fiscal doméstica. A avaliação é de que esses fatores têm impacto direto sobre a política monetária e sobre os ativos financeiros.
O Comitê reforçou que o cenário atual combina expectativas desancoradas, projeções de inflação elevadas, atividade ainda resiliente e pressão no mercado de trabalho. Nesse contexto, considera necessária a manutenção de uma política monetária significativamente contracionista.
Manutenção da Selic e sinalização de estratégia prolongada
A decisão de manter a Selic em 15% foi apresentada como compatível com a estratégia de convergência da inflação à meta ao longo do horizonte relevante. O Copom afirmou que a taxa atual também contribui para suavizar flutuações da atividade econômica e apoiar o pleno emprego, sem prejudicar o objetivo central de estabilidade de preços.
O Comitê reiterou que o momento exige cautela e que a estratégia em curso, manter o nível atual de juros por um período bastante prolongado, será mantida enquanto necessário. Destacou ainda que permanecerá vigilante e que futuros ajustes poderão ocorrer caso o cenário demande.
“O cenário atual, marcado por elevada incerteza, exige cautela na condução da política monetária. O Comitê avalia que a estratégia em curso, de manutenção do nível corrente da taxa de juros por período bastante prolongado, é adequada para assegurar a convergência da inflação à meta. O Comitê enfatiza que seguirá vigilante, que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e que, como usual, não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso julgue apropriado“, destaca o comunicado.
Decisão do Copom foi unânime
Votaram pela manutenção da taxa os seguintes membros: Gabriel Muricca Galípolo (presidente), Ailton de Aquino Santos, Diogo Abry Guillen, Gilneu Francisco Astolfi Vivan, Izabela Moreira Correa, Nilton José Schneider David, Paulo Picchetti, Renato Dias de Brito Gomes e Rodrigo Alves Teixeira.
Análise dos especialistas
Para Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, o comunicado do Copom reforça que não há intenção de alterar a taxa básica em janeiro. Segundo ele, o texto foi “praticamente idêntico ao anterior”, o que indica um esforço do Banco Central para evitar interpretações de que um corte no início do ano estivesse no radar.
“Pelo comunicado, o cenário base é de manutenção da Selic em 15%, e que eventuais sinalizações sobre mudanças só devem aparecer mais à frente, caso o Comitê considere março como ponto de partida para flexibilização”, avalia Cruz.
Ele observa que boa parte do mercado testava a hipótese de corte já em janeiro, o que deve ser ajustado após a leitura do comunicado. Em sua avaliação, a curva de juros deve reagir com alta nas pontas curtas e possível queda nas mais longas, refletindo juros altos por mais tempo.
Cruz também comentou que essa postura tende a gerar insatisfação política e de parte dos agentes que consideram o nível atual elevado, mas entende que o BC buscou “retirar ruído do radar” ao manter a comunicação estável.
Já o economista-chefe da AZ Quest, André Muller, avaliou que a manutenção já era amplamente esperada pelo mercado, mas destacou que a projeção de IPCA em 3,2% no final do horizonte relevante ficou “ligeiramente abaixo do que se imaginava”, reforçando a leitura de que o processo de desinflação avança de forma consistente.
Para ele, o Copom foi econômico nas alterações do comunicado, apenas reconhecendo de forma marginal a desaceleração da atividade e reforçando que a política monetária segue em patamar contracionista adequado. Muller observou que o comitê evitou dar qualquer tipo de guidance explícito sobre a próxima reunião, mas que as projeções divulgadas sinalizam a possibilidade de corte já no encontro seguinte.
“Seguimos com o call de que o corte deve ocorrer em janeiro, provavelmente uma redução de 25 pontos-base, com o IPCA projetado em torno de 3% no horizonte relevante. A comunicação do BC reforça a postura de decisões baseadas nos dados e no compromisso de convergir a inflação para o centro da meta”, destacou.











