No Brasil, o setor varejista tem enfrentado desafios significativos, reflexo de um cenário econômico marcado por políticas monetárias restritivas e um consumo moderado. No mês de agosto, as vendas no varejo registraram uma leve recuperação após uma sequência de quatro meses de quedas. Conforme dados divulgados nesta quarta-feira (15) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o varejo teve um aumento de 0,2% em comparação ao mês anterior e de 0,4% em relação a agosto do ano passado.
Apesar desses leves sinais de melhora, o setor ainda enfrenta desafios, principalmente devido à elevada taxa básica de juros, a Selic, que atualmente está em 15%. Isso impacta diretamente o consumo, uma vez que limita o crédito disponível para compras.
Para o economista Maykon Douglas, o resultado de agosto foi favorável e mostrou uma composição melhor. “Assim como no caso dos serviços, parece haver um efeito pontual positivo que decorre do pagamento dos precatórios no meio do ano“, destacou. O economista também pontou que a difusão aumentou e voltou à média histórica: “ou seja, as altas mensais têm se disseminado um pouco mais na margem“, avalia.
Vendas no varejo por setor
Em meio a esse panorama, algumas atividades varejistas destacaram-se com resultados positivos em agosto. Os setores de equipamentos e material para escritório, informática e comunicação tiveram um crescimento expressivo de 4,9%. Isso foi favorecido, em parte, pela desvalorização do dólar frente ao real, registrando uma queda de 3,18% no mês. Outros segmentos que também apresentaram melhoria incluem tecidos, vestuário e calçados, com um aumento de 1,0%, seguidos por artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria, móveis e eletrodomésticos, e hiper e supermercados, todos com crescimento abaixo de 1%.
Por outro lado, alguns setores enfrentaram retração. As vendas de livros, jornais, revistas e papelaria apresentaram uma queda de 2,1%, indicando uma possível mudança nos hábitos de consumo, onde o digital ganha espaço sobre o físico. Outros setores que registraram declínio incluem combustíveis e lubrificantes, com uma redução de 0,6%, e outros artigos de uso pessoal e doméstico, com queda de 0,5%. Esses dados evidenciam que, apesar das melhorias em alguns segmentos, ainda existem desafios significativos para a recuperação plena do varejo.
Setor | Variação em Agosto (%) |
---|---|
Equipamentos e material para escritório, informática e comunicação | +4,9% |
Tecidos, vestuário e calçados | +1,0% |
Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria | +0,8% (aprox.) |
Móveis e eletrodomésticos | +0,7% (aprox.) |
Hiper e supermercados | +0,5% (aprox.) |
Livros, jornais, revistas e papelaria | -2,1% |
Combustíveis e lubrificantes | -0,6% |
Outros artigos de uso pessoal e doméstico | -0,5% |
O que esperar para o comércio varejista ampliado?
Para Maykon Douglas, apesar da melhora, o varejo continua em desaceleração em relação aos meses anteriores. A parte mais sensível ao crédito subiu pelo segundo mês consecutivo, após três meses consecutivos de queda, mas acumula uma queda anual de 2,5%. “Isso mostra como o setor vem sentindo o impacto dos juros altos, impacto este que ainda será observado nos próximos meses“, destaca.
O comércio varejista do Brasil deve continuar oscilando, refletindo tanto as flutuações econômicas externas quanto internas, além das políticas governamentais. Um equilíbrio entre os fatores pode promover um ambiente mais favorável para o crescimento estável das vendas ao longo dos próximos anos. Nesse sentido, Douglas conclui que sua projeção para o PIB do terceiro trimestre é de leve alta de 0,3%.