Em participação do programa BM&C News de hoje (14), a economista-chefe da B.Side Investimentos, Helena Veronese, destacou que a economia brasileira está em um processo de desaceleração gradual.
Segundo Veronese, essa desaceleração ainda não é suficiente para aliviar as preocupações do Banco Central, que enfrenta o desafio de manter a inflação sob controle em meio a um mercado de trabalho aquecido.
“Ainda observamos uma atividade econômica robusta, embora menos forte do que no primeiro semestre deste ano. O mercado de trabalho, por exemplo, permanece aquecido, com quedas no desemprego e maior poder de negociação salarial, o que tem impulsionado o consumo das famílias e o setor de serviços”, explicou.
No entanto, a economista alerta que a desaceleração deve se intensificar nos próximos meses, com o impacto das políticas monetárias sendo sentido mais fortemente em 2024. “O mercado de trabalho deve responder ao novo ciclo de aperto monetário nos próximos seis meses, com uma tendência de enfraquecimento gradual”, afirmou.
Inflação e fatores sazonais
Sobre a inflação, Helena Veronese destacou que a recente alta é impulsionada por fatores sazonais, como choques climáticos e aumento das tarifas de energia. “Embora a inflação tenha acelerado em setembro, isso se deve a questões temporárias, como a bandeira vermelha nas contas de energia e o impacto do clima na produção agrícola”, disse a economista. Ela acrescentou que, apesar desses aumentos, os núcleos inflacionários, como serviços e bens industriais, estão desacelerando.
No entanto, Veronese ressaltou que as expectativas de inflação estão desancoradas, em grande parte devido à deterioração do cenário fiscal. “O Banco Central já projeta uma inflação acima da meta de 3% até 2026, refletindo os desafios fiscais que o governo ainda não conseguiu endereçar”, afirmou.
Desconfiança do mercado
A economista também comentou sobre o movimento da curva de juros, que reflete a desconfiança dos investidores em relação à solução dos problemas fiscais. “O mercado está precificando juros acima de 13% para o próximo ano, o que mostra o prêmio de risco associado à falta de cortes de gastos e ao aumento das despesas governamentais”, explicou.
Apesar das falas recentes de Gabriel Galípolo, futuro presidente do Banco Central, sobre a manutenção da independência da instituição, Veronese ponderou que o mercado ainda está atento à credibilidade do novo comando. “O tempo dirá se Galípolo manterá essa postura de independência e se o Banco Central conseguirá conquistar a confiança necessária para enfrentar os desafios fiscais e inflacionários nos próximos anos”, concluiu.
