A economia brasileira deve perder tração em 2026 após encerrar 2025 com desempenho ainda relativamente robusto. Segundo projeções divulgadas pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), o Produto Interno Bruto (PIB) deve crescer 1,8% no próximo ano, abaixo dos 2,5% estimados para 2025, o que representaria o menor avanço da atividade em seis anos.
O relatório Economia Brasileira aponta que a desaceleração será disseminada entre os setores, mas mais intensa na indústria, especialmente na de transformação, segmento sensível ao patamar elevado dos juros e ao avanço de importações.
A expectativa da CNI é de que a produção industrial como um todo cresça 1,1% em 2026, após alta de 1,8% em 2025, enquanto a indústria de transformação deve registrar estagnação.
Juros elevados continuam sendo o principal freio, mostra CNI
A política monetária segue no centro das restrições ao crescimento. A entidade projeta que a taxa Selic terminará em 15% em 2025, com cortes apenas a partir de 2026. Mesmo assim, a redução prevista para 12% no fim do próximo ano não será suficiente para aliviar significativamente o custo do capital, já que os juros reais devem permanecer próximos de 7,9%.
“O impacto dos juros nesse patamar é direto sobre a atividade produtiva, o emprego e a renda. A manutenção das condições monetárias restritivas tende a penalizar a indústria por um período mais prolongado“, afirma Ricardo Alban, presidente da CNI.
Previsão de crescimento do PIB de 2025 sobe para 2,5%, puxado pelo agro
A CNI destaca que, diferentemente de 2024, quando o avanço do PIB foi impulsionado pela indústria e pelos serviços, o crescimento de 2025 foi puxado essencialmente pelo agronegócio. A expectativa é de uma alta de 9,6% no PIB do setor, sustentada pela safra recorde e pelo bom desempenho da produção animal.
Os serviços também devem mostrar resultado positivo ao final de 2025, com crescimento de 2%, ligeiramente acima da projeção inicial de 1,9%, impulsionados pelo segmento de transportes e por investimentos relacionados à transformação digital.
Na indústria, o movimento é de desaceleração. Depois de crescer 3,3% no ano passado, o PIB industrial tende a avançar apenas 1,8% em 2025. O enfraquecimento é mais acentuado na indústria de transformação, cuja previsão caiu de 2% para 0,7% em um ano.
A construção civil também perdeu tração: deve crescer 1,5%, abaixo da expectativa inicial de 1,8%. A exceção positiva está na indústria extrativa, cuja projeção dobrou de 4% para 8% graças ao bom desempenho do petróleo e do minério de ferro.
Inflação no teto e Selic parada: juros devem seguir pesando sobre o crescimento
A CNI projeta que o IPCA feche 2025 em 4,5%, exatamente no teto da meta. Mesmo assim, a avaliação é de que o Banco Central manterá a taxa Selic em 15% na última reunião do Copom este ano, iniciando cortes somente a partir de 2026.
O crédito segue fortemente impactado: as concessões devem crescer 3,6% em 2025, bem abaixo dos 10,7% de 2024.
Mercado de trabalho perde ritmo, mas segue resiliente
A desaceleração ficou mais evidente no terceiro trimestre. Ainda assim, o emprego deve manter desempenho positivo: o número de ocupados deve crescer 1,3%, levando a taxa de desemprego para 5,4% no fim de 2025. A massa de rendimento real deve aumentar 5,6% no ano.
Gasto público sustenta a economia, mas fragiliza o quadro fiscal
O relatório indica que o aumento real das despesas federais ajudou a manter a atividade aquecida no segundo semestre de 2025. A previsão é de uma alta de 3,3% nos gastos em relação a 2024.
Apesar disso, preocupa o fato de que o cumprimento da meta fiscal depende quase exclusivamente do aumento da arrecadação, sem medidas relevantes de contenção de despesas. A CNI estima:
- déficit primário de R$ 11 bilhões (0,1% do PIB)
- dívida bruta em 78,9% do PIB
Os números reforçam o alerta sobre o risco fiscal e a dificuldade de acomodar a política monetária em ambiente de expansão de gastos.
CNI alerta: sem coordenação fiscal e monetária, país pode entrar em ciclo de baixo crescimento
O conjunto de projeções indica uma economia que cresce, mas perde força estrutural. A CNI reforça a necessidade de uma combinação mais equilibrada entre política fiscal e monetária para evitar um período prolongado de baixo crescimento, queda de competitividade industrial e menor investimento produtivo.

