A Margem Equatorial volta ao centro das atenções, após o Ibama conceber a licença necessária para perfuração da foz do Amazonas com estimativas que podem transformar o futuro energético do Brasil. De acordo com o fundador do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires, a região pode abrigar entre 7,5 e 10 bilhões de barris de petróleo recuperável, volume que colocaria o país diante de uma nova fronteira exploratória comparável ao pré-sal. “O potencial é tão expressivo que já desperta o interesse da Petrobras e de analistas internacionais, que veem na bacia uma oportunidade de expansão da produção nacional“, avalia Pires.
Os estudos indicam que a estrutura geológica da Margem Equatorial é muito semelhante à da Guiana, país vizinho que tem registrado grandes descobertas de petróleo nos últimos anos. Essa semelhança reforça as expectativas de que o Brasil possa reproduzir o mesmo sucesso exploratório, principalmente na Bacia da Foz do Amazonas. Pires destaca que, embora a atividade exija licenças ambientais e longos processos de perfuração, a perspectiva é promissora e estratégica para o país.
O que a Petrobras espera encontrar na Margem Equatorial
Para Adriano Pires, o momento é de otimismo moderado. Ele afirma que a Petrobras e especialistas da área geológica apostam em descobertas relevantes, mas lembram que o processo é de longo prazo. “Os números com que se trabalha hoje são expressivos e podem colocar a Margem Equatorial entre as maiores reservas do Brasil”, explica. O economista projeta que a produção na região possa atingir cerca de 1 milhão de barris por dia entre 2029 e 2030, o que representaria uma contribuição significativa à atual produção nacional, hoje em torno de 3,5 milhões de barris diários.
Entretanto, ele reforça que a exploração de petróleo é uma atividade de risco e exige comprovação técnica. “É preciso perfurar para saber o que realmente existe ali. Esse primeiro poço vai indicar o tamanho real do potencial, mas não basta um. Serão necessários quatro, cinco ou seis poços adicionais para confirmar uma área de produção comercial”, observa. A previsão mais realista, segundo o especialista, é que o ciclo completo, da perfuração à produção em larga escala, leve de seis a dez anos.
Os desafios ambientais e o avanço dos estudos na Margem Equatorial
Após anos de impasse entre a Petrobras, o Ibama e outros órgãos ambientais, a liberação para perfuração do primeiro poço na Margem Equatorial marca um ponto de virada. Pires lembra que a autorização só foi concedida após longo debate sobre segurança ambiental. “Há um equilíbrio a ser alcançado. É possível explorar com responsabilidade e preservar o meio ambiente ao mesmo tempo”, afirma. Ele ressalta ainda que a licença atual é temporária e limitada a um poço exploratório, que servirá de base para novas decisões futuras.
Além disso, o especialista observa que a decisão de liberar a perfuração foi influenciada pelo calendário técnico. A sonda contratada pela Petrobras teria seu aluguel encerrado em breve, o que motivou a autorização antes do fim do prazo. A empresa terá cerca de cinco meses para concluir essa etapa e avaliar se há petróleo e gás na quantidade esperada. Caso o resultado seja positivo, o plano prevê novas perfurações e a delimitação de áreas comerciais, antes do início da produção definitiva.
Os recursos da Margem Equatorial podem financiar a transição energética?
Questionado sobre o uso dos futuros recursos da Margem Equatorial para financiar a transição energética, Adriano Pires defende que o contexto atual é diferente do período do pré-sal. Ele lembra que, à época, não havia preocupação global com o meio ambiente na mesma intensidade que hoje. “Agora o debate é outro. Existe uma pressão mundial por energias limpas, mas ainda há dependência dos combustíveis fósseis”, destaca.
Para ele, o Brasil tem uma vantagem comparativa única por ser produtor de ambos os tipos de energia, fósseis e renováveis. “Não faz sentido deixar uma riqueza dessa enterrada, especialmente em uma das regiões mais pobres do país. É preciso cuidar das árvores, mas também das pessoas”, diz Pires. Segundo o economista, a exploração da Margem Equatorial pode gerar empregos, construir infraestrutura e trazer desenvolvimento para o Norte do país, desde que acompanhada de governança e transparência.
Como o petróleo pode impulsionar o desenvolvimento regional
Pires acredita que os recursos vindos da Margem Equatorial podem ser decisivos para combater desigualdades históricas. Ele defende que parte dos royalties seja destinada a investimentos sociais, como saneamento básico e infraestrutura urbana. “Estamos falando de uma região que sediará a COP 30 e ainda não tem saneamento adequado. É um absurdo”, afirmou.
O economista também reconhece que, no passado, o uso inadequado dos royalties em estados produtores como o Rio de Janeiro comprometeu resultados, mas considera que o país amadureceu. “Podemos aprender com os erros e aplicar esses recursos de forma mais eficiente. O petróleo pode financiar políticas ambientais e sociais, desde que haja gestão responsável”, analisa.
O futuro da Margem Equatorial para o Brasil
Na avaliação de Adriano Pires, a Margem Equatorial representa uma oportunidade histórica para o Brasil ampliar sua relevância energética global. Entretanto, o sucesso dependerá da capacidade de conciliar produção, sustentabilidade e gestão eficiente dos recursos. “Se o país souber aproveitar esse potencial, poderá fortalecer sua matriz energética e financiar a própria transição para um futuro mais limpo”, conclui.
Assim, o que está em jogo na Margem Equatorial vai além de barris de petróleo. Trata-se da chance de equilibrar o desenvolvimento econômico com a responsabilidade ambiental, de transformar riqueza natural em progresso social e de posicionar o Brasil como protagonista em uma nova era de energia e sustentabilidade.
O Painel BM&C desta semana, debateu sobre esse e outros assuntos. Confira: