A expansão dos programas de transferência de renda no Brasil tem reduzido a força de trabalho, pressionado a inflação e imposto custos crescentes justamente à população mais vulnerável. A avaliação é do economista-chefe do BTG Pactual, Mansueto Almeida, que participou do segundo dia do Profit Summit, evento promovido pela Nelogica, em São Paulo.
Força de trabalho menor distorce leitura do desemprego
Mansueto destacou que o Brasil registra uma taxa de desemprego historicamente baixa, mas isso não reflete necessariamente um mercado de trabalho mais aquecido. Um dos fatores que explicam o indicador é a redução da força de trabalho, com pessoas deixando de procurar emprego e, portanto, saindo da estatística.
“O desemprego cai porque a força de trabalho está menor”, afirmou. Ele lembrou que, durante a pandemia, o Brasil perdeu cerca de 8 milhões de empregos em função do lockdown. Em 2021, houve recuperação, e entre 2022 e 2024 o país gerou aproximadamente 2 milhões de vagas por ano. Esse ciclo, porém, não deve se repetir.
Para manter a taxa de desemprego estável nos próximos anos, o Brasil precisará gerar entre 800 mil e 900 mil empregos por ano, ritmo compatível com crescimento próximo de 2% ao ano, mas insuficiente para mudanças estruturais mais profundas. “A dinâmica mudou. O crescimento não virá mais da quantidade de pessoas trabalhando, mas da produtividade”, afirmou.
Produtividade travada há 40 anos
O economista lembrou que a produtividade brasileira cresce, em média, 0,5% ao ano há quatro décadas, patamar considerado insuficiente para sustentar o crescimento econômico de longo prazo. A exceção é o agronegócio, onde o avanço tecnológico e organizacional permitiu ganhos expressivos de eficiência.
Segundo Mansueto, ampliar a produtividade nos demais setores da economia exige maior incorporação de tecnologia, melhora da qualidade da educação, ambiente regulatório estável e previsível, além de estímulos à inovação e à competição. “Sem isso, o crescimento vai continuar limitado”, disse.
Gasto social elevado pressiona inflação e prejudica os mais pobres
Para Mansueto, há hoje um paradoxo na política social brasileira. Ao expandir o gasto público sem revisão de critérios, o governo pressiona a inflação e obriga o Banco Central a manter juros elevados por mais tempo, o que prejudica exatamente as camadas mais vulneráveis da população.
“O governo amplia o gasto, pressiona a inflação e mantém juros muito altos. Quem sofre mais com isso são os mais pobres”, afirmou.
Ele destacou que o crédito pessoal no Brasil opera atualmente com juros próximos de 50% ao ano, reduzindo drasticamente a capacidade de consumo das famílias. “As pessoas não conseguem comprar uma TV, um carro ou um eletrodoméstico como antes”, observou.
Despesa obrigatória e dívida pública ampliam o risco fiscal
Mansueto ressaltou que o principal desafio fiscal do país está no crescimento das despesas obrigatórias, especialmente previdência e políticas de salário mínimo corrigido acima da inflação. Segundo ele, essas regras automáticas pressionam a dívida pública, dificultam o cumprimento das metas fiscais e exigem emissões crescentes de títulos públicos com juros elevados.
“O problema não é apenas cortar gasto, é desacelerar a trajetória de crescimento da despesa”, afirmou. Para o economista, enquanto a dinâmica da dívida seguir avançando nesse ritmo, o país continuará convivendo com prêmios de risco elevados e custo de capital mais caro do que o observado em economias comparáveis.
Revisão dos benefícios será inevitável a partir de 2027
Na avaliação de Mansueto, qualquer governo que assumir a partir de 2027 terá de revisar a estrutura dos programas sociais — não para reduzir a proteção, mas para corrigir distorções, evitar desincentivos ao trabalho e conter a pressão sobre as contas públicas.
O economista lembrou que o impacto fiscal dos auxílios sociais hoje está em torno de R$ 160 bilhões, enquanto há poucos anos esse valor girava próximo de R$ 20 bilhões. “A questão não é deixar de ajudar, mas ajudar de forma eficiente e sustentável”, disse.
Demografia impõe novo limite ao crescimento
Mansueto reforçou que o Brasil vive o fim do chamado bônus demográfico e entra em um processo acelerado de envelhecimento da população. A partir de 2040, a população brasileira deve começar a cair, reduzindo ainda mais a força de trabalho disponível e aumentando a pressão sobre o sistema previdenciário e sobre o crescimento potencial da economia.
“Se o país não ajustar incentivos e não aumentar produtividade, a demografia vai ganhar esse jogo e o crescimento vai cair”, concluiu.

