O cenário de inflação persistente e sinais divergentes na economia brasileira devem adiar qualquer sinalização de corte na taxa de juros por parte do Banco Central. Essa é a leitura de Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, em entrevista ao programa BM&C News.
“A maior dificuldade é que não depende tanto do Banco Central. Não é só câmbio ou juros que explicam por que a inflação continua alta”, afirmou Cruz, ao comentar a combinação de pressões externas, choques de oferta e indicadores locais ainda mistos.
Segundo ele, apesar de algumas pressões inflacionárias começarem a ceder — como os preços da carne e dos ovos —, o BC deve manter uma postura mais cautelosa. “Esses itens devem aliviar no segundo semestre, mas não agora em abril. Só mais adiante o consumidor vai sentir esse alívio no bolso”, explicou.
Corte de juros? Só mais pra frente
A recente fala do diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo, no Congresso Nacional, reforça a cautela da autoridade monetária. “Ele negou qualquer discussão sobre corte de juros agora. E faz isso porque, se abrir esse debate antes da hora, o mercado distorce os preços dos ativos”, disse Cruz.
Para o estrategista, o Banco Central precisa preservar a credibilidade e manter o discurso firme para controlar as expectativas do mercado. “A função agora é continuar falando em juros altos. Só no fim do ano, se os dados permitirem, o discurso pode mudar”, afirmou.
Além disso, Cruz destaca que o comportamento do mercado e a ancoragem das expectativas de inflação são fatores tão relevantes quanto os dados econômicos presentes. “Não é só o que está acontecendo hoje que importa, mas também o que se espera para os próximos meses”, concluiu.
