Escolher o CEO certo se tornou uma missão estratégica e de alto custo para as empresas brasileiras. Embora o debate sobre remuneração de executivos ainda seja discreto por aqui, os números são expressivos e os impactos de uma decisão equivocada vão além das cifras.
Segundo levantamento da SG Comp Partners, consultoria especializada em remuneração, a remuneração total de um CEO no Brasil pode ultrapassar R$ 46 milhões por ano. A mediana fica em torno de R$ 6,24 milhões anuais, representando cerca de 0,16% da receita líquida de uma companhia listada na B3.
Perfil do CEO: liderança além do currículo
Para João Márcio Souza, CEO da Talenses Executive e fundador do Talenses Group, a escolha de um CEO vai muito além do histórico profissional. “O que mais pesa hoje é a capacidade de liderar em um contexto de incerteza e transformação constante”, afirma.
Segundo ele, embora a experiência em setores específicos ainda tenha relevância — especialmente em mercados regulados ou de alta complexidade — as empresas buscam líderes com visão de longo prazo e inteligência política. “É fundamental a capacidade de engajar times diversos, desenvolver sucessores e formar cultura”, acrescenta.
Além da comunicação estratégica com o mercado, João Márcio destaca uma tendência cada vez mais forte: “As empresas querem CEOs que representem algo maior do que seus cargos, com consciência social e ambiental.”
Para ele, habilidades comportamentais fazem hoje toda a diferença: “Não é mais apenas sobre ‘comandar’, mas sobre inspirar, conectar e entregar com consistência.”
O que compõe os pacotes milionários
De acordo com o estudo da SG Comp Partners, o salário-base dos CEOs é apenas o início da conta. Os pacotes incluem bônus atrelados ao desempenho, participação nos lucros e, sobretudo, incentivos de longo prazo (ILP) como ações restritas e opções.
Entre as grandes empresas, com receita acima de R$ 9 bilhões, 45% adotam ações restritas como forma de compensação de seus CEOs. Esse tipo de remuneração, por sua natureza, busca não só premiar resultados, mas garantir o alinhamento dos executivos com a estratégia de longo prazo da companhia.
Contratar errado custa caro
Os riscos de uma escolha equivocada são altos. “Uma escolha errada para a posição de CEO pode ser devastadora. Impacta diretamente o valor de mercado, a moral interna, a reputação da marca e pode levar anos para ser corrigida”, alerta João Márcio Souza.
Ele ressalta que conselhos de administração e headhunters precisam ir além de uma busca superficial. “Mais do que buscar o melhor CEO do mercado, é preciso encontrar o CEO certo para aquele contexto, naquela empresa, naquele momento”, pontua.
E completa: “A má notícia é que não existe perfil perfeito. A boa é que, quando conselhos e parceiros de busca trabalham com clareza, escuta ativa e visão de futuro, as chances de sucesso aumentam exponencialmente.”
Governança e transparência: uma questão de tempo?
Apesar das cifras milionárias, o debate sobre a remuneração de CEOs no Brasil permanece limitado a poucas esferas corporativas. Em contraste, nos Estados Unidos, a remuneração dos principais executivos integra o debate público e é fiscalizada de perto por investidores institucionais e conselhos independentes.
Ainda assim, os pacotes continuam robustos. Dados recentes do Wall Street Journal mostram que, em 2024, nenhum CEO das empresas do S&P 500 ultrapassou a marca de US$ 100 milhões por ano, pela primeira vez em uma década. A média de remuneração ficou em US$ 16,4 milhões, acima dos US$ 15,9 milhões registrados em 2023, com forte presença de incentivos de longo prazo.
A tendência global é clara: pacotes generosos, mas cada vez mais atrelados ao desempenho e à geração de valor para os acionistas. A questão para o mercado brasileiro é quando — e como — essa pressão por governança e transparência ganhará força.
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