O mundo da moda perdeu um de seus maiores ícones. O estilista italiano Giorgio Armani, fundador de uma das marcas mais reconhecidas globalmente, morreu na última quinta-feira (4). Sua ausência abre uma nova fase para o grupo Armani, que movimentou cerca de 2,3 bilhões de euros em 2024 e sempre preservou a independência em relação a investidores externos. A questão central agora é: quem conduzirá o futuro da empresa?
Sem filhos para herdar o império, Armani já havia desenhado um plano de sucessão. O estilista controlava diretamente a companhia, mas organizou mecanismos de governança ao longo dos últimos anos. A decisão de criar uma fundação e um estatuto social próprio sinaliza a tentativa de garantir a continuidade da grife, respeitando os princípios que sempre guiaram sua trajetória, a autonomia e a coerência criativa.
Quem são os herdeiros mais próximos de Armani?
No núcleo familiar, Armani deixa a irmã Rosanna, além de três sobrinhos: Silvana, Roberta e Andrea Camerana. Todos eles já ocupam cargos relevantes dentro do grupo. Silvana atuava lado a lado do tio na criação das coleções femininas, enquanto Andrea possui funções de gestão. Roberta também integra a estrutura da companhia. Outro nome considerado peça-chave é Pantaleo Dell’Orco, braço direito e parceiro de Armani na concepção das coleções masculinas.
Esses cinco nomes despontam como os principais herdeiros do estilista. A proximidade com a marca, a experiência acumulada e a confiança depositada por Armani indicam que o comando criativo e estratégico tende a permanecer em mãos conhecidas e alinhadas à filosofia do fundador.
Qual o papel da Fundação Armani?
Em 2016, Giorgio Armani criou uma fundação destinada a preservar a governança e a independência da empresa. Inicialmente, ela recebeu uma participação simbólica de 0,1% no capital do grupo, mas a expectativa é que essa fatia cresça de forma significativa após sua morte. A fundação será administrada por três indicados escolhidos pelo próprio Armani, com a missão de proteger o legado e evitar disputas entre herdeiros.
Segundo o próprio estilista declarou em entrevistas, o objetivo era impedir que a grife fosse vendida a conglomerados internacionais ou fragmentada. Nesse sentido, a fundação atua como um guardião dos valores que nortearam sua carreira e como uma âncora de estabilidade para o grupo.
O que dizem os estatutos sociais?
Além da fundação, Armani elaborou um novo estatuto social que entra em vigor após sua morte. O documento estabelece regras específicas para a governança, dividindo o capital em diferentes categorias de ações, com variados direitos de voto e de poder. Embora os detalhes da distribuição acionária ainda não estejam claros, o estatuto dá diretrizes importantes sobre o futuro da companhia.
Entre os pontos centrais, está a exigência de uma abordagem cautelosa em aquisições. Também há a previsão de que uma eventual listagem em bolsa só poderá ocorrer cinco anos após a entrada em vigor do estatuto, e mediante aprovação da maioria dos diretores. Até então, Armani rejeitou propostas de private equity e investidores interessados em assumir parte da marca.
Quem pode assumir a gestão executiva?
Se na área criativa Silvana Armani e Dell’Orco oferecem continuidade, na gestão executiva o grupo deve recorrer a nomes de longa data. Dois executivos despontam como favoritos: Giuseppe Marsocci, vice-gerente geral e diretor comercial, e Daniele Ballestrazzi, vice-gerente geral e diretor financeiro e de operações. Ambos possuem profundo conhecimento das engrenagens internas da companhia e experiência internacional no setor de moda e luxo.
Além disso, a transição exigirá a substituição direta de Armani nos cargos de presidente e CEO. Essa mudança estrutural será decisiva para entender como a grife se posicionará em um mercado cada vez mais competitivo e dinâmico, no qual marcas de luxo enfrentam tanto a pressão por inovação quanto a demanda por sustentabilidade.
O que esperar para o futuro da Armani?
O falecimento de Giorgio Armani marca o fim de uma era, mas não necessariamente significa ruptura. O criador preparou cuidadosamente um sistema de proteção para manter sua empresa estável. Herdeiros familiares e colaboradores de confiança já atuam dentro da organização, o que indica continuidade nas coleções e no estilo que consolidou a marca.
Por outro lado, o mercado aguarda com expectativa a leitura do testamento e a definição oficial da nova estrutura de poder. Será a primeira vez, em mais de cinco décadas, que a Armani viverá sem o comando direto de seu fundador. Nesse cenário, as diretrizes deixadas por ele, prudência financeira, independência estratégica e fidelidade à essência criativa, serão fundamentais para guiar a próxima etapa.
Assim, a pergunta “quem assume a Armani após Giorgio?” encontra respostas múltiplas: um conjunto de herdeiros, uma fundação preparada para salvaguardar o legado e executivos experientes. O desafio, daqui para frente, será unir esses atores sob a mesma visão que transformou a marca em sinônimo de elegância e independência no universo da moda.