A ciência explica que a diferença de sentir dor entre homens e mulheres é real e complexa, resultante de uma interação entre biologia, hormônios e fatores psicossociais. Mulheres, em geral, relatam sentir dor com mais frequência e intensidade, mas isso não significa que homens sintam menos dor, apenas que a experimentam de forma diferente.
A biologia e os hormônios desempenham um papel central
A percepção da dor começa na nossa biologia. Estudos mostram que os hormônios sexuais, como o estrogênio e a testosterona, influenciam diretamente os receptores de dor. O estrogênio, hormônio feminino predominante, pode aumentar a sensibilidade à dor, fazendo com que os estímulos dolorosos sejam percebidos de forma mais aguda, veja a explicação da Dra. Luciana Conte em seu Instagram @dralucianaconte:
Por outro lado, a testosterona parece ter um efeito analgésico, ajudando a modular e diminuir a percepção da dor nos homens. Essa base hormonal ajuda a explicar por que condições de dor crônica, como fibromialgia e enxaqueca, são significativamente mais prevalentes em mulheres.
Como os fatores sociais e psicológicos moldam a experiência da dor?
Além da biologia, a experiência da dor é moldada por fatores sociais e psicológicos desde a infância. Historicamente, homens são socializados para serem “fortes” e suprimir a expressão da dor, enquanto mulheres são, muitas vezes, mais encorajadas a verbalizar seu sofrimento.
Essa diferença cultural afeta não apenas como cada gênero relata a dor, mas também como eles a processam. De acordo com a Associação Internacional para o Estudo da Dor (IASP), esses fatores podem levar a um diagnóstico tardio em homens e, por vezes, à subestimação da dor em mulheres. Fatores que influenciam a percepção incluem:
- Condicionamento social: Estereótipos de gênero sobre como expressar a dor;
- Estratégias de enfrentamento: Mulheres tendem a focar mais nos aspectos emocionais da dor, enquanto homens podem usar a distração;
- Ansiedade e depressão: Condições mais comuns em mulheres e que podem amplificar a percepção da dor;
- Viés de gênero na medicina: Histórico de estudos clínicos focados em participantes masculinos.
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O viés de gênero no diagnóstico e tratamento da dor
O viés de gênero na saúde é um problema reconhecido que afeta o tratamento da dor. Por muito tempo, a dor feminina foi frequentemente tratada como “emocional” ou “psicológica”, levando a um tratamento inadequado. Um exemplo clássico é o do infarto, cujos sintomas em mulheres podem ser diferentes dos tradicionalmente descritos para homens.
Reconhecer que a dor se manifesta de forma diferente é crucial para um tratamento eficaz e personalizado. A medicina moderna está avançando para entender melhor essas nuances. As principais consequências desse viés histórico são:
- Atraso no diagnóstico de condições dolorosas em mulheres;
- Prescrição de analgésicos menos potentes para mulheres em comparação com homens para a mesma queixa;
- Menor inclusão de mulheres em pesquisas sobre dor no passado;
- Normalização da dor em mulheres, especialmente a dor pélvica e menstrual.
Não é sobre quem sente mais dor, mas sobre experiências diferentes

A conclusão científica não é que um gênero é “mais fraco” ou “mais forte” que o outro. A questão é que a experiência da dor é diferente. A interação complexa entre genética, hormônios, cérebro e contexto social cria realidades distintas que precisam ser compreendidas e respeitadas.
O futuro do tratamento da dor caminha para uma abordagem personalizada, que considera o sexo e o gênero do paciente como fatores essenciais para um diagnóstico preciso e um alívio eficaz da dor.
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