A tendência de acumular amostras grátis de perfume é resultado de vieses cognitivos, como o efeito dotação, que nos faz supervalorizar o que possuímos. A psicologia explica que guardamos esses itens para uma “ocasião especial” que raramente chega, paralisados pela dificuldade de escolha.
O efeito dotação nos faz valorizar mais o que já possuímos
O efeito dotação, um conceito desenvolvido pelo economista vencedor do Nobel, Dr. Richard Thaler, é o principal culpado. Esse viés faz com que atribuamos um valor maior a um item simplesmente porque ele nos pertence. Uma amostra grátis deixa de ser apenas um produto e se torna “a minha amostra”, abaixo podemos ver a explicação desse efeito no canal Economia Comportamental:
Essa sensação de posse, mesmo que o item não tenha custado nada, nos torna mais relutantes em “perdê-lo”. Usar o perfume significa acabar com ele, e nosso cérebro interpreta essa ação como uma perda, o que nos leva a adiar seu uso indefinidamente para evitar esse sentimento negativo.
Por que guardamos o ‘melhor’ para uma ocasião especial que nunca chega?
A mentalidade de “guardar para uma ocasião especial” é outro poderoso gatilho psicológico. Vemos as amostras de perfume, especialmente as de marcas de luxo, como pequenos tesouros que não devem ser desperdiçados em um dia comum. O problema é que nosso cérebro raramente considera um dia como “especial o suficiente”.
Essa busca pela ocasião perfeita cria um ciclo vicioso de procrastinação, onde o item acaba esquecido em uma gaveta. Psicologicamente, essa atitude está ligada a:
- O medo de “gastar” um recurso valioso em um momento indigno;
- A idealização do item, que o torna precioso demais para o uso cotidiano;
- A dificuldade em justificar o prazer imediato em vez de guardá-lo para um futuro incerto;
- A associação do luxo com eventos raros, e não com o dia a dia.
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O paradoxo da escolha transforma a decisão em uma tarefa cansativa
O psicólogo Barry Schwartz descreveu o paradoxo da escolha: ter muitas opções, em vez de nos libertar, pode nos paralisar. Uma coleção de dezenas de amostras de perfume cria uma sobrecarga de decisão. É muito mais simples e rápido pegar o frasco de perfume que já usamos habitualmente.
Escolher uma nova fragrância para o dia exige um esforço mental: avaliar, comparar e decidir. Diante dessa tarefa, nosso cérebro opta pelo caminho de menor resistência, ignorando a coleção de amostras e mantendo-as intactas para uma próxima (e improvável) vez.
Como a aversão à perda influencia nosso comportamento com as amostras?

A aversão à perda é a tendência de sentir a dor de uma perda de forma mais intensa do que o prazer de um ganho equivalente. Usar uma amostra de um perfume que você adora significa esgotá-la. Se você não pretende comprar o frasco grande, essa “perda” parece definitiva.
O medo de se apaixonar por uma fragrância e não poder mais usá-la nos impede de sequer experimentá-la. É mais seguro, do ponto de vista emocional, manter a possibilidade e a novidade guardadas na gaveta do que usar, amar e “perder” o perfume para sempre.
Gostou de entender a psicologia por trás desse pequeno hábito? Compartilhe com aquela pessoa que também tem uma coleção de amostras intocadas!








