Existe uma lei surpreendente que proíbe casar com a mesma pessoa várias vezes, mas a regra se aplica a uma situação muito específica: após um casamento ter sido anulado, e não divorciado. Essa proibição, presente no Código Civil Brasileiro, visa proteger a seriedade da instituição do casamento e evitar fraudes.
O princípio da seriedade do casamento na lei
Para a lei, o casamento é um ato solene e um dos pilares da organização social, não um contrato que pode ser feito e desfeito trivialmente. A proibição de se casar novamente com a mesma pessoa após uma anulação reforça essa seriedade. A anulação ocorre quando um casamento é considerado inválido desde o início por um vício grave, como coação ou um dos noivos já ser casado.
Permitir que o mesmo casal se case novamente após uma anulação seria como ignorar o problema fundamental que invalidou a união em primeiro lugar. A lei age, portanto, para garantir a segurança jurídica e impedir que o casamento seja usado de forma leviana ou para fins ilícitos, protegendo a sua integridade como instituição.
Qual a diferença crucial entre divórcio e anulação?
A confusão sobre essa lei nasce da falta de distinção entre divórcio e anulação. São processos legalmente distintos, com consequências completamente diferentes, especialmente no que diz respeito à possibilidade de um novo casamento entre as mesmas pessoas. O divórcio dissolve um casamento que foi válido, enquanto a anulação declara que ele nunca existiu legalmente.
Entender essa diferença é a chave para compreender por que a proibição existe. A tabela abaixo resume os pontos principais que separam os dois conceitos.
| Conceito | Divórcio | Anulação (Casamento Nulo ou Anulável) |
|---|---|---|
| Natureza do Casamento | Dissolve um casamento que foi válido. | Declara que o casamento foi inválido desde o início. |
| Motivo Principal | Vontade de uma ou ambas as partes de terminar o vínculo. | Existência de um “vício de origem” (coação, bigamia, erro essencial sobre a pessoa). |
| Consequência Legal | As pessoas se tornam “divorciadas” e voltam ao estado civil de solteiras. | O casamento é considerado como se nunca tivesse existido. |
| Novo Casamento (com a mesma pessoa) | Permitido. O casal pode se casar novamente quantas vezes quiser. | Proibido por lei. É considerado um impedimento matrimonial. |
Em quais situações essa proibição se aplica na prática?
O impedimento matrimonial após a anulação não é uma regra arbitrária; ele se aplica a situações que demonstram um problema grave que não deve ser repetido. A lei busca proteger as partes envolvidas e a própria sociedade de uniões que nasceram sob circunstâncias fraudulentas ou ilegais.
Esses cenários são específicos e demonstram a lógica protetiva da legislação. Alguns dos exemplos mais claros em que a proibição se aplicaria incluem:
- Casamento sob Coação: Se o casamento foi anulado porque uma pessoa foi forçada a se casar, a lei a proíbe de se casar novamente com o coator para protegê-la.
- Bigamia: Se a união foi anulada porque um dos cônjuges já era casado, ele não pode se casar novamente com a segunda pessoa, pois a situação de bigamia é ilegal.
- Erro Essencial: Se o casamento foi anulado porque um dos cônjuges enganou o outro sobre sua identidade ou um fato crucial que tornaria a vida em comum insuportável.
- Incapacidade de Consentir: Quando um dos noivos não tinha discernimento para os atos da vida civil no momento da união.
Então, é possível casar com um ex-cônjuge após o divórcio?

Sim, e essa é a situação mais comum e totalmente permitida por lei. Após o divórcio, os ex-cônjuges são legalmente considerados solteiros e têm total liberdade para se casar com quem quiserem, inclusive um com o outro. Não há nenhum limite para o número de vezes que um casal divorciado pode se casar novamente.
Casais famosos, como a atriz Elizabeth Taylor e o ator Richard Burton, são um exemplo clássico disso: eles se casaram, se divorciaram, e depois se casaram novamente um com o outro. O divórcio encerra um ciclo válido, mas não impede que um novo ciclo, com um novo casamento, comece entre as mesmas duas pessoas.
Leia também: O real motivo pelo qual ficamos com a pele “arrepiada” ao sentir medo








