O gesto de piscar os olhos ou fazer caretas ao pensar, segundo a Psicologia, é um mecanismo inconsciente para reduzir a carga cognitiva e bloquear estímulos sensoriais externos, permitindo que o cérebro direcione todos os seus recursos para o processamento de informações internas.
A necessidade de bloquear o mundo para ‘olhar para dentro’
O cérebro humano tem uma capacidade de processamento limitada e a visão é o sentido que mais consome essa capacidade. Quando você precisa acessar uma memória complexa, fazer um cálculo mental ou organizar uma ideia, seu cérebro precisa de todo o poder de fogo disponível. Manter os olhos abertos significa processar um fluxo constante de informações visuais (cores, formas, movimentos) que competem por esses recursos.
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Piscar os olhos, apertá-los ou desviar o olhar para um ponto vago (como o teto ou uma parede em branco) é uma estratégia instintiva de “portão sensorial”. Você está, literalmente, criando uma micro-pausa no fluxo de dados visuais para liberar banda larga mental. É o equivalente a fechar as outras abas do navegador para que o vídeo que você quer assistir carregue mais rápido.
Por que fazemos caretas e movimentos involuntários ao nos concentrarmos?
As caretas e outros movimentos faciais, como franzir a testa, morder o lábio ou esticar a língua, são explicados por um fenômeno neurológico chamado irradiação motora ou “transbordamento motor”. Quando uma área do cérebro está trabalhando em alta intensidade, como os lobos frontais durante um esforço de concentração, a intensa atividade neuronal pode “vazar” para as áreas motoras adjacentes.
O córtex motor, responsável por controlar os músculos do corpo, tem uma representação particularmente grande para a face, lábios e língua. Portanto, é natural que a sobrecarga de um pensamento complexo “transborde” e ative esses músculos, resultando em gestos e caretas involuntários. Não é um ato consciente, mas sim um subproduto físico do seu cérebro trabalhando no limite.
A relação entre o tipo de pensamento e o gesto facial
A expressão facial que você faz ao pensar muitas vezes está ligada à natureza da tarefa cognitiva ou à emoção associada à memória que você está tentando acessar. Esse conceito, estudado pela Psicologia Cognitiva, sugere que nossos corpos participam ativamente do processo de pensamento. A tabela abaixo ilustra algumas dessas conexões comuns.
| Tipo de Esforço Mental | Gesto Facial Comum | Possível Significado Psicológico |
|---|---|---|
| Tentando lembrar um nome ou palavra | Apertar os olhos, olhar para cima ou para o lado. | Bloqueio visual para focar na “busca” interna. O movimento dos olhos pode estar ligado à forma como as memórias são espacialmente organizadas no cérebro. |
| Resolvendo um problema complexo | Franzir a testa, fazer bico, morder o lábio. | Sinal de alta concentração. A tensão muscular facial reflete a dificuldade e o esforço mental intenso (irradiação motora). |
| Concentração profunda em uma tarefa | Colocar a língua para fora (especialmente em crianças). | Um dos exemplos mais clássicos de transbordamento motor, onde a área da linguagem e da motricidade fina transborda para a área da língua. |
| Acessando uma memória afetiva | Um leve sorriso, um suspiro ou uma careta de desconforto. | O corpo está reencenando sutilmente a emoção ligada àquela memória específica antes mesmo de a lembrança completa se formar na consciência. |
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Esses gestos são um sinal de algum problema ou condição?
Na esmagadora maioria dos casos, piscar, desviar o olhar ou fazer caretas ao pensar é um comportamento perfeitamente normal e saudável. É simplesmente um sinal visível de que o cérebro de uma pessoa está engajado em um trabalho mental intenso. Não há motivo para preocupação ou para tentar suprimir esses gestos.
Atenção: é importante diferenciar esses movimentos contextuais de tiques nervosos crônicos, que são movimentos repetitivos, involuntários e sem propósito, que podem ocorrer sem um gatilho de concentração. Condições como a Síndrome de Tourette envolvem tiques que são de natureza diferente e exigem avaliação médica. O gesto de pensar, por outro lado, é situacional e diretamente ligado ao esforço cognitivo.
Observar esses gestos como uma ferramenta de autoconhecimento
Em vez de se preocupar, você pode usar a observação desses gestos como uma forma de autoconhecimento. Preste atenção em quais são as suas “caretas de pensar” mais comuns. Elas podem te dar pistas sobre que tipo de tarefa exige mais do seu cérebro ou sobre a natureza emocional das memórias que você acessa com frequência.
Observar esses sinais em outras pessoas também pode melhorar sua inteligência social. Se você vê um colega de trabalho franzindo a testa e olhando para o teto, é um sinal claro de que ele está profundamente concentrado e que talvez não seja a melhor hora para interrompê-lo. É a linguagem corporal do cérebro em ação, e aprendê-la pode tornar nossas interações mais empáticas e eficazes.
