O volume de vendas do comércio varejista brasileiro recuou 0,2% em maio de 2025 na comparação com abril, segundo dados divulgados pelo IBGE. Apesar da leve retração na margem, o setor ainda acumula alta de 2,2% no ano e de 3,0% nos últimos 12 meses. Já na comparação com maio de 2024, o varejo cresceu 2,1%, indicando uma desaceleração no ritmo de expansão frente ao mês anterior.
No comércio varejista ampliado, que inclui veículos, motos, partes e peças, além de material de construção, houve avanço de 0,3% na passagem mensal, interrompendo uma sequência de quedas nos meses anteriores. O acumulado em 12 meses chegou a 2,4%, enquanto o crescimento em relação a maio de 2024 ficou em 1,1%. Apesar dos números positivos, a performance ainda reflete um cenário de consumo moderado e desigual entre os segmentos.
Setores do varejo têm comportamento desigual nas vendas de maio
Entre os destaques do mês, setores como equipamentos de informática, móveis e eletrodomésticos, artigos farmacêuticos e vestuário registraram as maiores altas nas vendas frente ao mês anterior. Por outro lado, combustíveis, papelaria e outros artigos de uso pessoal e doméstico apresentaram recuos, o que contribuiu para conter uma recuperação mais robusta do varejo.
Do ponto de vista regional, 20 das 27 unidades da federação registraram queda nas vendas do varejo restrito em maio. Tocantins, Rio Grande do Norte e Santa Catarina tiveram as maiores retrações. No entanto, estados como Roraima, Rio de Janeiro e Sergipe apresentaram desempenho positivo, mostrando que os resultados seguem heterogêneos entre as regiões do país.
Análise do varejo: consumo moderado e estagnação no curto prazo
Para o economista Leonardo Costa, do ASA, os dados divulgados pelo IBGE reforçam a leitura de uma atividade varejista em compasso de espera. Segundo ele, a queda de 0,2% no conceito restrito e o crescimento abaixo do previsto no varejo ampliado apontam para uma perda de fôlego no consumo das famílias, mesmo com a leve recuperação de alguns segmentos. “Apesar de variações positivas em categorias como informática, móveis e farmacêuticos, o recuo em itens como papelaria, combustíveis e artigos de uso pessoal acabou pesando no índice geral”, explica.
Costa destaca ainda que, embora o setor de veículos tenha mostrado alta de 1,5% em maio, o desempenho não foi suficiente para reverter o quadro de instabilidade das vendas. “O varejo ampliado até esboçou reação após a forte queda de abril, mas os resultados ainda estão longe de sinalizar uma retomada consistente. O consumo doméstico segue operando em ritmo comedido em 2025, com desaceleração evidente nos últimos meses”, alerta o economista.
Varejo: consumidor mais seletivo pressiona setor de vestuário
Na visão de Roberto Jalonetsky, CEO da Speedo Multisport, o avanço de 2,1% nas vendas na comparação anual veio aquém das projeções e indica um consumidor mais cauteloso. Ele observa que o comportamento do cliente mudou, especialmente no setor de vestuário, onde a decisão de compra passa a considerar valor agregado, propósito e funcionalidade. “Hoje, o consumidor avalia não apenas preço, mas também utilidade e alinhamento com seu estilo de vida. No vestuário esportivo, o desempenho das vendas está cada vez mais ligado à percepção de valor em saúde e bem-estar”, afirma.
Para o executivo, marcas com posicionamento claro e proposta de valor consistente tendem a se destacar mesmo em cenários de oscilação econômica. “O resultado abaixo do esperado no varejo pode reforçar a cautela do mercado, impactando o câmbio e elevando a sensibilidade do investidor aos dados de atividade. É um momento em que a comunicação de marca e a entrega de valor se tornam ainda mais cruciais para sustentar as vendas e manter a relevância no mercado”, conclui Jalonetsky.