Em um momento de reconfiguração geopolítica e econômica global, Donald Trump voltou a utilizar tarifas como instrumento de poder, acirrando tensões comerciais e impondo desafios aos países aliados, inclusive Japão e Coreia do Sul. No Painel BM&C, os especialistas Bruno Musa, Roberto Dumas e Marco Saravalle analisaram os impactos desse movimento, destacando as consequências para o Brasil, a hegemonia do dólar e o ambiente de investimento no país.
Segundo Bruno Musa, a nova rodada de tarifas reflete a tentativa dos Estados Unidos de impor sua agenda ao mundo, mas com efeitos colaterais relevantes:
“As tarifas prejudicam o próprio americano. Trump usa isso como instrumento de pressão, mas com juros altos e dólar enfraquecido, o cenário é inédito.”
O economista destaca que o dólar perdeu força mesmo diante de riscos globais, o que indica um enfraquecimento da previsibilidade dos EUA como polo seguro de investimentos.
“Trump está criando incerteza, não apenas risco”, alerta Dumas sobre tarifas
Para Roberto Dumas, mestre em economia, as decisões de Trump trazem mais inflação e instabilidade global.
“O problema não é o risco, é a incerteza. O investidor sabe lidar com risco, mas não com tarifas arbitrárias de 20% a 125%. Isso inviabiliza qualquer plano de negócios.”
Dumas lembra que o atual déficit fiscal dos EUA remete à era Reagan e ao acordo do Plaza em 1985, e alerta que a política de tarifas de Trump é macroeconomicamente equivocada, pois amplia o déficit em conta corrente ao mesmo tempo que reduz a poupança doméstica.
Dólar em xeque? Especialistas debatem hegemonia com tarifas no radar
A hegemonia do dólar também foi tema do debate. Musa e Dumas concordam que, embora a desdolarização ganhe força como narrativa, a substituição real da moeda americana ainda está distante.
“Ainda não existe alternativa institucional confiável ao dólar. Nem o euro conseguiu substituir. Não é apenas questão política, é sobre confiança e liquidez”, afirmou Dumas.
Musa lembrou que a China não tem incentivo para valorizar sua moeda e manter competitividade exportadora, o que limita qualquer acordo semelhante ao do Plaza no passado.
Elon Musk, política libertária e instabilidade institucional
Outro tema debatido foi a possível entrada de Elon Musk na política americana com um novo partido. Para Bruno Musa,
“Seria saudável para o debate político. Uma alternativa mais libertária pode quebrar o duopólio intervencionista entre democratas e republicanos.”
Saravalle, porém, alertou que o excesso de emocionalismo nas decisões políticas, visível em conflitos entre Musk e Trump, afeta a racionalidade do mercado financeiro.
Brasil segue sem protagonismo: “o país do futuro que nunca chega”
Na segunda parte do painel, os analistas voltaram o olhar para o Brasil. Dumas e Musa foram incisivos:
“O Brasil faz de tudo para permanecer à margem. Temos terra, água, gente, mas não usamos nada disso com inteligência institucional.”
Musa destacou a dificuldade em atrair investimentos devido à insegurança jurídica, instabilidade regulatória e burocracia, citando o caso do linhão Manaus-Boa Vista, que levou 10 anos apenas para obter licença ambiental.
“Hoje o investidor teme o passado incerto no Brasil. A regra pode mudar retroativamente, como vimos com o IOF”, disse Saravalle, reforçando a imprevisibilidade como obstáculo ao crescimento.
Desorganização fiscal, STF e o desequilíbrio entre os Poderes
O debate também abordou a tensão entre os Poderes no Brasil, após o governo Lula acionar o STF para arbitrar sobre o IOF.
“Quando o Executivo recorre ao Judiciário após derrota no Legislativo, rompe-se o equilíbrio democrático”, afirmou Bruno Musa.
“O STF não pode ser mediador político. Isso eleva o grau de incerteza institucional”, completou Dumas.
Para os analistas, o problema fiscal do Brasil é agravado por quem decide sobre ele, e o impacto será sentido especialmente em 2026, ano de eleições.
Na última rodada do programa, cada convidado resumiu o cenário em uma palavra:
- Bruno Musa: Dificuldade
- Marco Saravalle: Imprevisibilidade
- Roberto Dumas: Desafiador
Apesar da crítica dura, o grupo reconhece que o caos também pode abrir espaço para reformas, se houver vontade política real.