As mudanças climáticas já deixaram de ser uma ameaça futura. Enchentes, incêndios e secas têm provocado prejuízos bilionários em diversas regiões do mundo, pressionando governos, empresas e cidadãos a buscarem novas formas de proteção. Nesse contexto, o setor de seguros se reposiciona como ferramenta essencial para antecipar riscos e mitigar perdas, especialmente no Brasil, onde a cultura de seguro ainda é incipiente.
Durante encontros bilaterais realizados durante o Fórum em Lisboa, representantes de seguradoras brasileiras e portuguesas discutiram soluções conjuntas para tornar o seguro mais acessível e eficaz diante dos desafios climáticos. O presidente da CNseg, Dyogo Oliveira, destacou que cerca de 85% da população brasileira ainda está fora do mercado de seguros.
“Apenas 15% da população tem algum tipo de seguro. Em saúde, esse número sobe para 25%, mas ainda é muito distante do ideal”, afirmou Oliveira. Segundo ele, a CNseg estruturou um plano de desenvolvimento para ampliar o acesso ao seguro e democratizar sua contratação no país.
Seguros ainda são visto como custo, não como proteção
O debate também abordou modelos de seguro obrigatórios adotados em países como Turquia e México. No Brasil, tramita no Congresso a proposta do seguro social de catástrofe, que prevê proteção a populações atingidas por eventos extremos. No entanto, a medida ainda encontra resistência de alguns ministérios.
Para especialistas do setor, o desafio não é apenas regulatório, mas cultural. Os seguros ainda são visto como uma despesa, e não como um instrumento de proteção patrimonial e estabilidade econômica.
“Hoje tem mais seguro de celular do que seguro de vida no Brasil”, afirmou Rafael Furlanetti, sócio da XP Investimentos. “Nos países desenvolvidos, o seguro representa cerca de 25% do patrimônio das famílias. É um instrumento de mitigação de risco e também uma forma de poupança de longo prazo.”
Furlanetti, que também preside a Ancord, Associação Nacional das Corretoras e Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários, Câmbio e Mercadorias, defendeu o avanço da educação financeira como peça-chave para o amadurecimento do mercado.
Seguros como estratégia de preservação e diversificação
Com mais de 90% do patrimônio dos brasileiros concentrado em real, o seguro também pode atuar como instrumento de diversificação de ativos. A proteção não se limita a pessoas físicas: no mundo corporativo, a demanda por coberturas cresce de forma consistente.
“Os seguros permeiam toda a atividade econômica. Tudo pode ter uma transferência de risco para nossa indústria”, disse Leandro Tuma, vice-presidente comercial da Wiz Corporate. Segundo ele, o crescimento do setor acompanha o aumento da conscientização de empresas que buscam mitigar perdas com eventos inesperados.
Tuma também citou a crise no Rio Grande do Sul como um exemplo de oportunidade perdida de transferência de risco para o setor segurador. Para ele, se houvesse um modelo estruturado de cobertura, parte do prejuízo poderia ter sido absorvido pelas seguradoras, e não apenas pelo Estado e pela população.
Setor de seguros projeta crescimento acima de 10% ao ano
Apesar dos desafios, as perspectivas para o mercado são positivas. Com previsão de crescimento superior a 10% ao ano, o setor aposta em três pilares para consolidar seu papel estratégico: educação financeira, inovação e confiança.
“Seguro ruim é seguro mal contratado. Um seguro bem estruturado, com um bom advisor e uma boa corretora, protege de fato o patrimônio, seja de uma empresa ou de uma família”, reforçou Tuma.