A produção industrial brasileira recuou 0,2% em julho de 2025 em relação ao mês anterior, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado veio levemente melhor do que a mediana das expectativas, que projetava queda de 0,3%. Na comparação com julho de 2024, houve alta de 0,2%, e no acumulado em 12 meses o setor ainda mostra crescimento de 1,9%.
Apesar da pequena variação positiva no comparativo anual, o desempenho confirma um período de fraqueza prolongada. Desde abril, a indústria acumula perda de 1,5%, mantendo quatro meses seguidos sem avanço relevante. O patamar atual está 1,7% acima do nível pré-pandemia, mas segue 15,3% abaixo do recorde de maio de 2011, evidenciando o desafio de retomada consistente.
Quais setores puxaram a queda da produção industrial?
O desempenho da produção industrial em julho foi marcado por forte heterogeneidade entre os setores.
Do lado negativo, as retrações mais expressivas ocorreram em:
- Metalurgia: -2,3%, interrompendo dois meses de crescimento (+1,6%).
- Outros equipamentos de transporte: -5,3%.
- Bebidas: -2,2%.
- Informática, eletrônicos e ópticos: -2,0%.
Entre os segmentos em alta, os destaques foram:
- Produtos farmoquímicos e farmacêuticos: +7,9%.
- Produtos alimentícios: +1,1%.
- Indústrias extrativas: +0,8%.
- Produtos químicos: +1,8%.
Na ótica das grandes categorias econômicas, os bens de consumo duráveis caíram 0,5% e os bens de capital recuaram 0,2%. Já os bens intermediários subiram 0,5%, revertendo perdas anteriores, enquanto os bens de consumo semi e não duráveis avançaram 0,1% após três meses consecutivos de queda.
Quais os destaques regionais?
O IBGE também apontou diferenças relevantes entre os estados pesquisados. Oito dos 15 locais analisados apresentaram retração, com destaque para:
- Amazonas: -7,3%, pressionado pelas quedas em bebidas e eletrônicos.
- São Paulo: -1,1%, puxado por metalurgia e derivados de petróleo.
Entre os desempenhos positivos, o Pará avançou 5,7% com o impulso da indústria extrativa, enquanto Mato Grosso cresceu 4,1%, apoiado pela produção alimentícia.
O que dizem os economistas?
Para Leonardo Costa, economista do ASA, o resultado confirma o cenário de estagnação prolongada. “Foram quatro meses seguidos sem crescimento relevante. Embora a leitura de julho tenha sido menos negativa que o esperado, a composição aponta perda de fôlego em setores ligados a consumo e investimentos, enquanto os destaques positivos vieram de segmentos mais voláteis, como extrativa e farmacêutica”, afirma. Ele também ressalta que a média móvel trimestral de -0,3% reforça a tendência de acomodação.
Costa destacou ainda que os indicadores de confiança do setor industrial recuaram em agosto, sinalizando um ambiente mais adverso para os próximos meses. “A deterioração das expectativas reforça a cautela em relação à retomada do setor no curto prazo”, completou.
Já Maykon Douglas, economista, lembra que o resultado de julho repete o padrão visto no PIB do segundo trimestre: “A alta da indústria extrativa, menos cíclica, contrasta com a performance fraca da indústria de transformação, que é mais sensível às condições financeiras. Essa desaceleração tem sido disseminada, mas os bens de consumo se sobressaem, com uma queda trimestral anualizada de 11,5%”.
Douglas acrescenta que o setor completa quatro meses consecutivos sem crescimento, reforçando a leitura de desaceleração da atividade doméstica em razão do aperto monetário. “O dado confirma que o ciclo de juros altos segue pesando sobre a indústria e sobre o consumo”, avalia.
Produção industrial mostra ritmo fraco
O resultado de julho mostra que, mesmo com avanços pontuais em segmentos específicos, a produção industrial segue limitada por fatores estruturais e conjunturais. A dependência de setores voláteis, como a indústria extrativa, mantém o quadro frágil, enquanto a indústria de transformação apresenta sinais claros de perda de fôlego.
Com expectativas em queda e um cenário de política monetária ainda contracionista, analistas apontam que os próximos meses podem manter o ritmo de estagnação. O desempenho da indústria, portanto, continuará sendo um termômetro importante para medir a capacidade de reação da economia brasileira no segundo semestre de 2025.