A Petrobras voltou a sinalizar uma possível revisão nos preços dos combustíveis nas próximas semanas. A presidente da estatal, Magda Chambriard, afirmou em entrevista ao Broadcast que acompanha o comportamento do mercado quinzenalmente e que “já está na hora de olhar de novo” os valores praticados, considerando que o último reajuste foi realizado em 1º de abril, com queda de 4,6% no preço do diesel. Já a gasolina segue sem alterações há 271 dias.
Apesar da expectativa, a executiva reforçou que a estatal está avaliando com cautela os impactos da atual volatilidade externa — impulsionada pelas tarifas impostas pelos Estados Unidos — para evitar repasses precipitados aos consumidores. “A tarifa é problema deles, não nosso”, afirmou. Segundo ela, qualquer nova decisão será tomada em conjunto com os diretores Fernando Melgarejo (Financeiro e RI) e Claudio Schlosser (Logística e Comercialização), responsáveis pela definição da política de preços da companhia.
Falta de previsibilidade da Petrobras e o risco para investidores
A declaração da presidente Magda Chambriard sobre revisar os preços “de 15 em 15 dias” evidencia, segundo o diretor do CBIE, Pedro Rodrigues, um dos principais problemas da política comercial da Petrobras: a ausência de transparência e previsibilidade. “Parece que a decisão parte da cabeça dela, como se fosse uma quitanda”, afirmou. Para ele, a estatal, por deter 85% do mercado de refino no país, deveria adotar critérios objetivos e públicos para ajustes, especialmente por ser uma empresa listada em bolsa. A falta de clareza, segundo Rodrigues, prejudica tanto os acionistas quanto os consumidores, e reforça a percepção de que as decisões são tomadas sem embasamento técnico claro.
Efeitos inflacionários ainda fora do radar, mas riscos permanecem
Apesar da volatilidade no câmbio e no petróleo, Rodrigues pondera que o cenário atual ainda aponta para uma possível redução nos preços, e não aumento. Fatores como o enfraquecimento da demanda global — provocado pelas tarifas americanas — e a sinalização da OPEP de que pode elevar a produção contribuem para a pressão de baixa nas cotações internacionais.
No entanto, ele alerta que, caso os preços subam novamente, o impacto no IPCA viria principalmente via combustíveis como o diesel, com efeitos em cadeia sobre transporte e alimentos. “Se houver aumento, o diesel é o maior risco, por seu efeito logístico nos preços de quase tudo que consumimos”, destacou.
Petrobras: sinalizações já influenciam o comportamento do papel
Segundo Pedro Galdi, analista de investimentos da plataforma AGF, mesmo antes de qualquer definição oficial, declarações da presidência da Petrobras sobre uma possível revisão nos preços dos combustíveis já são suficientes para movimentar o mercado. Após o anúncio do novo pacote tarifário dos EUA, o petróleo e os derivados passaram a registrar quedas relevantes, o que acendeu o alerta sobre uma possível revisão para baixo nos preços internos.
“Este tipo de sinalização influencia o comportamento dos preços das ações da Petrobras, assim como de outras ações de empresas do setor” destaca Galdi.
Risco político e volatilidade crescente para o investidor
Para Galdi, a política de preços menos aderente à paridade internacional eleva a percepção de risco político na Petrobras. “Sempre que há indícios de ingerência, o mercado reavalia o papel com cautela, o que pode pressionar as ações”, afirma. O analista lembra que o distanciamento da lógica de mercado — mesmo que com o objetivo de conter a inflação — tende a gerar desorganização na cadeia de distribuição, além de incertezas quanto ao futuro da companhia.
A melhor estratégia, segundo ele, também seria manter uma política clara, transparente e próxima dos preços internacionais, garantindo previsibilidade ao investidor sem abrir mão da responsabilidade com a estabilidade doméstica.
