A Petrobras apresentou um lucro líquido de R$ 26,7 bilhões no segundo trimestre de 2025, revertendo o prejuízo registrado no mesmo período do ano anterior. O resultado foi impulsionado pela melhoria operacional, incremento na produção e maior eficiência nos campos em operação, que compensaram os efeitos negativos da queda de 10% no preço do petróleo tipo Brent.
Apesar da pressão sobre a receita com a retração dos preços internacionais do petróleo, a estatal conseguiu elevar em 5,4% sua produção de óleo e gás em comparação com o primeiro trimestre, totalizando 2,32 milhões de barris por dia. Além disso, foram aprovados R$ 8,66 bilhões em dividendos e JCP, equivalente a R$ 0,67 por ação.
Segundo o analista Pedro Galdi, da AGF, o desempenho é considerado sólido, especialmente diante do cenário externo menos favorável. “A valorização cambial no trimestre teve papel relevante no resultado final. Ainda assim, observamos queda relevante frente ao primeiro trimestre, o que mostra que o ambiente de pressão de custos segue exigente”, afirmou.
Quais os principais destaques operacionais da Petrobras no trimestre?
A performance operacional da Petrobras chamou a atenção de analistas e investidores. O crescimento da produção foi atribuído ao ramp-up de plataformas como o FPSO Alexandre de Gusmão e à plena capacidade operacional do FPSO Marechal Duque de Caxias, que atingiu o pico com apenas quatro poços. A P-78, por sua vez, já está em deslocamento para o Brasil e deve iniciar operações com duas semanas de antecedência.
Do ponto de vista financeiro, o EBITDA ajustado ficou em R$ 57,9 bilhões, em linha com as expectativas de mercado. O fluxo de caixa operacional foi robusto, alcançando R$ 42,4 bilhões, e o fluxo de caixa livre totalizou R$ 19,2 bilhões. O Capex cresceu 9% em relação ao trimestre anterior, chegando a US$ 4,4 bilhões, mantendo-se dentro do planejamento anual.
Por outro lado, a dívida bruta aumentou e atingiu US$ 68,1 bilhões, em parte devido a novas captações no mercado. A alavancagem subiu para 1,53x, maior patamar desde 2021, mas ainda considerada controlada por analistas. Houve também um ganho cambial relevante de R$ 11,965 bilhões, que reforçou o caixa da companhia.
Dividendos abaixo do esperado podem frustrar o mercado?
Embora a Petrobras tenha anunciado R$ 8,66 bilhões em dividendos e juros sobre capital próprio, o valor ficou abaixo da expectativa de parte do mercado, que projetava mais de R$ 12 bilhões. Para investidores focados em dividend yield, isso pode representar um sinal de cautela, especialmente após dois trimestres de aumento de endividamento e redução do fluxo de caixa livre.
Segundo Gustavo Cruz, da RB Investimentos, “os dividendos são um dos maiores atrativos da Petrobras e o número abaixo do consenso pode pesar negativamente”. No entanto, ele destaca que a empresa se manteve focada no seu core business e com uma eficiência operacional superior às petroleiras privadas, como evidenciado pela queda do custo de extração para US$ 5,90 por barril, o menor desde o primeiro trimestre de 2022.
Por que a Petrobras decidiu voltar ao mercado de GLP?
Um dos anúncios mais estratégicos do trimestre foi a decisão do Conselho de Administração da Petrobras de aprovar o retorno da empresa ao mercado de distribuição de gás liquefeito de petróleo (GLP), após a venda da Liquigás em 2021. O movimento é visto como uma forma de diversificação das fontes de receita e fortalecimento da presença no mercado interno de energia.
Com a reentrada no segmento de GLP, a Petrobras pretende capturar uma fatia maior da cadeia de valor, aproveitando sua estrutura logística e expertise no setor. A medida ocorre em um momento de transição energética, no qual o gás natural e o GLP têm papel estratégico como vetores de crescimento e descarbonização.
Para Pedro Galdi, apesar da performance neutra em relação às projeções, o resultado reforça a resiliência operacional da Petrobras. “É um balanço equilibrado. A estatal conseguiu mostrar consistência mesmo com Brent mais fraco e custos pressionando, algo que o mercado deve avaliar positivamente”, comentou.
Quais riscos e oportunidades a Petrobras deve monitorar?
A MSX Invest ressaltou que, apesar do desempenho sólido, alguns fatores devem ser monitorados no curto e médio prazo:
- Dependência dos preços do Brent: quedas futuras podem pressionar margens e lucros.
- Aumento do Capex: mesmo dentro do plano, requer disciplina para não afetar a geração futura de caixa.
- Cenário político e regulatório: pode influenciar decisões estratégicas e distribuição de dividendos.
Em contrapartida, os investimentos em projetos no pré-sal, como a descoberta de óleo de alta qualidade no bloco Aram, e a aquisição de novos blocos exploratórios, fortalecem a posição da estatal no médio e longo prazo. Também houve avanço nas refinarias RNEST e REPLAN, com aumento da produção de combustíveis de maior valor agregado, como QAV e diesel S-10.