O payroll dos Estados Unidos registrou a criação de apenas 22 mil empregos em agosto, número bem abaixo da previsão de 75 mil vagas. Os dados foram divulgados nesta sexta-feira (5) pelo Departamento do Trabalho, por meio do Bureau of Labor Statistics (BLS). O resultado reforça a leitura de desaceleração do mercado de trabalho norte-americano e aumenta a expectativa por novos cortes de juros pelo Federal Reserve.
Agosto foi o quarto mês consecutivo com resultados inferiores a 100 mil vagas. Além disso, a taxa de desemprego subiu de 4,2% para 4,3%, em linha com as projeções de mercado. Esse movimento sinaliza uma perda gradual de fôlego na geração de empregos, ainda que os níveis continuem baixos quando comparados a períodos de crise econômica.
Quais são os principais destaques do payroll de agosto?
De acordo com o Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, o relatório trouxe alguns pontos relevantes que ajudam a entender o cenário atual:
- Criação de 22 mil vagas, contra expectativa de 75 mil.
- Taxa de desemprego subiu de 4,2% para 4,3%.
- Ganhos salariais mensais ficaram em 0,3%, dentro do esperado.
- Na comparação anual, houve desaceleração de 3,9% para 3,7%.
- O setor público federal cortou 13 mil postos em agosto, chegando a quase 100 mil no acumulado do ano.
- Revisões para baixo nos dados de meses anteriores: junho de 185 mil para 105 mil, julho de 187 mil para 157 mil.
Segundo Cruz, os salários anuais estão próximos do chamado “número mágico” de 3,5%, citado por Jerome Powell, presidente do Fed, como referência de conforto para não pressionar a inflação local. “Nesse momento, a pressão inflacionária não vem do mercado de trabalho, mas sim da questão tarifária”, afirmou o economista. Para ele, o payroll consolida ainda mais a expectativa de corte de juros na reunião de 17 de setembro, e aumenta a dúvida sobre a possibilidade de um novo corte até o fim do ano.
O que dizem os especialistas sobre o payroll e os juros?
Enquanto Gustavo Cruz destaca a influência de fatores como imigração e mercado setorial, Fabio Fares, especialista em análise macro, ressalta que o Fed não terá alternativa senão avançar no ciclo de afrouxamento monetário. “Powell não tem como não cortar. O payroll veio muito fraco, com apenas 22 mil vagas criadas e desemprego a 4,3%. Tudo indica que serão três cortes até o fim do ano”, afirmou.
Já Pedro Ros, CEO da Referência Capital, destaca que esses números confirmam uma desaceleração mais forte no mercado de trabalho, algo que já vinha aparecendo nos relatórios privados. “Na prática, esse resultado abre espaço para que o Federal Reserve acelere o corte de juros, já que a inflação segue elevada, mas a economia claramente perde fôlego“.
Nesse sentido, eles concordam que o payroll abriu espaço para a autoridade monetária justificar novos cortes mesmo em um ambiente de inflação pressionada por tarifas. O relatório mostrou estagnação em setores como construção civil, hotelaria, alimentação e lazer, tradicionalmente associados à mão de obra de imigrantes. Segundo Cruz, a redução no fluxo migratório, tanto legal quanto ilegal, tem contribuído para essa fraqueza no mercado de trabalho.
Implicações para a economia norte-americana
Por outro lado, apesar do resultado fraco, especialistas ressaltam que uma taxa de desemprego em 4,3% não configura crise ou risco imediato de “hard landing”. O mercado de trabalho segue relativamente aquecido, mas com sinais claros de desaceleração. Isso dá ao Fed maior flexibilidade para avançar nos cortes de juros sem comprometer a credibilidade da política monetária.
Enquanto isso, investidores acompanham a comunicação de Jerome Powell, que deverá enfatizar a importância de manter o equilíbrio entre controle inflacionário e estímulo à atividade econômica. O desafio será avaliar até que ponto a redução da taxa básica pode conviver com pressões vindas de tarifas e tensões comerciais globais.
Payroll mais fraco abre oportunidade para o Brasil
Para Gustavo Assis, CEO da Asset Bank, o resultado do payroll de agosto, reforça a percepção de desaceleração mais intensa do mercado de trabalho americano. “Nesse cenário, as condições de financiamento global tendem a melhorar, criando oportunidades para o Brasil“, avalia. Assis aponta que investidores devem intensificar a busca por ativos de renda fixa com risco ajustado, favorecendo estruturas como os FIDCs, que conectam empresas e investidores em um momento de maior seletividade no capital.