O ultimato imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, com a ameaça de retomar tarifas comerciais contra vários países, inclui um fator que transcende a pressão tática e reflete uma necessidade fiscal estrutural sem precedentes para os Estados Unidos. Segundo Fábio Fares, especialista em análise macroeconômica, o mercado ainda não compreendeu a profundidade dessa medida, que vai além das negociações comerciais e está diretamente ligada à sustentação do déficit fiscal dos EUA, projetado em trilhões de dólares. A aprovação do projeto de reconciliação fiscal criou uma dependência permanente das receitas tarifárias, situação inédita na história americana.
Tarifas como solução fiscal para o déficit dos EUA
Fares aponta que a necessidade de elevar as tarifas comerciais para gerar receita fiscal é um reflexo das dificuldades fiscais dos EUA. “O déficit projetado para os próximos é trilionário, e as despesas públicas crescem em um ritmo que não será possível sustentar sem essas receitas adicionais“, destacou o especialista.
Ele explicou que, com cortes de gastos politicamente insustentáveis para 2027, os Estados Unidos se veem forçados a buscar alternativas para financiar o orçamento, e a tarifa se tornou uma das soluções mais viáveis para lidar com essa crise fiscal. As negociações em torno de tarifas, que poderiam ser consideradas como uma medida temporária, agora são vistas como uma estratégia permanente para o país.
Para o Brasil, o impacto dessa reconfiguração será profundo e permanente. Fares observa que a ausência de um acordo entre os 18 países que representam 95% do déficit comercial americano coloca o Brasil em uma posição vulnerável não apenas em relação às tarifas básicas, mas também com a possibilidade de sobretaxas de até 10% para as nações do BRICS, bloco de que o Brasil faz parte. A medida de Trump surge em um momento em que o país também enfrenta desafios econômicos internos, e qualquer elevação tarifária pode piorar a balança comercial e afetar diretamente as exportações brasileiras para os Estados Unidos.
Impacto das tarifas nas exportações brasileiras
O especialista ressalta que a extensão de três semanas, dada pelo governo dos Estados Unidos até 1º de agosto, não muda a realidade estrutural das tarifas. “Estamos diante de uma reconfiguração permanente do comércio global, com tarifas que podem variar entre 15% e 35%”, afirmou Fares. Para o Brasil, essa estratégia de tarifas não é uma questão de se haverá acordo, mas sim quanto o país pagará pela ausência de um acordo comercial com os EUA.
Essa realidade modifica a dinâmica do comércio global, afetando as exportações e a competitividade de países emergentes, como o Brasil. A aplicação de tarifas mais altas pode resultar em um impacto direto nas exportações brasileiras, que já enfrentam desafios para diversificar seus mercados fora da tradicional relação com os EUA. “O Brasil terá que pagar o preço dessa reconfiguração do comércio internacional. Não se trata de uma disputa pontual, mas de uma mudança estrutural nas regras do comércio global”, explicou Fábio Fares.
Tarifas marcam nova ordem no comércio global
O analista também destaca a importância de observar a relação entre política fiscal e comércio internacional no cenário global. O déficit fiscal dos EUA e a necessidade de tarifas como uma fonte de financiamento estrutural não são problemas isolados. “O mundo está testemunhando uma alteração estrutural nas relações comerciais globais, e o Brasil precisa se preparar para as mudanças que já estão em andamento”, conclui Fares.
À medida que as potências econômicas ajustam suas políticas comerciais, as tarifas e a soberania fiscal dos países serão fatores determinantes para o futuro da economia global. No caso do Brasil, a necessidade de adaptação a essas novas realidades comerciais será crucial para a sustentabilidade de suas exportações e da economia como um todo.