O Federal Reserve (Fed) dos Estados Unidos adotou uma postura preventiva ao reduzir as taxas de juros em sua última reunião, realizada no dia 18 de setembro. De acordo com José Maria Correia da Silva, coordenador de estratégia da Avenue, o Fed busca evitar uma desaceleração acentuada na economia norte-americana, agindo antes que o mercado de trabalho demonstre sinais significativos de enfraquecimento.
“O Fed está cortando 0,5 pontos percentuais para não correr o risco de repetir o que foi feito no passado, quando se aumentaram os juros após os sinais de desaceleração já estarem presentes”, explicou José Maria. O objetivo da instituição é garantir que a economia continue em crescimento, mantendo um ambiente estável para o mercado de trabalho.
Economia Resiliente
Apesar de uma leve desaceleração na criação de postos de trabalho, a economia dos EUA continua robusta. O desemprego permanece em níveis historicamente baixos, e os salários têm crescido acima da inflação, o que reforça o consumo e as vendas no varejo, fundamentais para o crescimento do PIB norte-americano. “O trabalhador americano está com ganhos reais de salário, o que é um ponto fundamental”, afirmou o estrategista. Esses fatores sustentam a visão de que o Fed tomou a decisão correta ao iniciar o ciclo de cortes.
Para as próximas reuniões, o mercado projeta uma nova redução de 0,25 pontos percentuais, seguindo as indicações do presidente do Fed, Jerome Powell. Segundo José Maria, “essa deve ser a toada” a ser seguida, desde que não ocorram surpresas nos próximos indicadores econômicos.
Mercado de Investimentos
O estrategista também comentou sobre o impacto das recentes decisões do Fed no mercado de investimentos. A expectativa é que o ciclo de cortes beneficie tanto a renda variável quanto a renda fixa. “O corte de juros favorece a marcação de mercado dos títulos de renda fixa, e as classes de ativos tendem a se beneficiar desse cenário”, explicou destacando a perspectiva de um “soft landing” ou até mesmo “no landing” na economia, ou seja, sem uma recessão significativa.
Ele observou que o ciclo de cortes pode continuar, mas levantou a questão sobre qual seria a “taxa terminal”, ou seja, o ponto em que o Fed interromperá as reduções. Ele mencionou que essa taxa pode estar em torno de 3%, levando em conta um cenário inflacionário mais elevado no longo prazo.
Endividamento Norte-Americano
José Maria também trouxe à tona o crescente endividamento dos Estados Unidos, destacando que, embora não seja um risco de curto prazo, é um desafio fiscal a ser enfrentado nos próximos anos. “Os Estados Unidos seguem correndo com déficits anuais, e não há uma visão clara de como esse cenário será revertido”, afirmou.
Ele ainda destacou que ambos os partidos políticos, Democrata e Republicano, têm propostas que não enfrentam o problema de maneira adequada. Segundo o especialista, “as propostas, seja de um candidato ou de outro, falam em gastos, com o cenário fiscal se deteriorando”. Ainda assim, ele mencionou que o país continua atraindo investimentos estrangeiros e que a demanda por títulos do Tesouro dos EUA permanece sólida.