O Bitcoin alcançou uma nova máxima histórica, atingindo US$ 122.838, acumulando uma valorização de 30,5% no ano. O movimento de alta ocorre em um momento de crescente tensão nos mercados globais, após o governo dos Estados Unidos intensificar sua guerra comercial, impondo tarifas de 50% sobre o Brasil e de 30% sobre a União Europeia e o México.
Paralelamente, o ouro, tradicional ativo de proteção, também renovou máximas, sendo negociado a US$ 3.364 por onça-troy, com alta de 27% no ano. A combinação de incertezas geopolíticas, aumento da liquidez global e debate regulatório nos EUA tem elevado a demanda por ativos considerados porto-seguro.
Bitcoin como reserva de valor? Analista vê papel crescente, mas ainda com ressalvas
Para Luiz Pedro, sócio e analista de cripto da Nord Investimentos, o Bitcoin vem, de fato, se consolidando como uma reserva de valor alternativa, mas ainda não pode ser plenamente comparado ao ouro. “A volatilidade ainda impacta bastante esse racional no curto prazo. Ainda assim, há uma demanda crescente pelo ativo com esse papel, seja por empresas, países ou investidores de varejo”, afirmou o especialista à BM&C News.
Pedro também destaca a mudança no perfil do investidor nos últimos anos: “O ciclo atual é muito menos especulativo do que o de 2020 ou 2017. Hoje, vemos uma presença forte de investidores institucionais, ETFs e empresas adotando o Bitcoin como estratégia de caixa, inclusive com políticas de aumentar a quantidade de BTC por ação”.
Segundo ele, essa maior adoção institucional contribui para a redução da volatilidade ao longo do tempo. “Com um valor de mercado acima de US$ 2,4 trilhões, não é mais fácil ver quedas abruptas de 50% como no passado. A estrutura de mercado hoje exige um volume muito maior de saída de capital para isso acontecer.”
A influência da liquidez global no preço do Bitcoin
Um dos pontos centrais destacados por Luiz Pedro para explicar o atual rali do Bitcoin é o aumento do M2 global, ou seja, a quantidade de dinheiro em circulação no mundo. “A gente vê uma correlação bem significativa entre o Bitcoin e o crescimento do M2, tanto global quanto nos EUA. Com mais dinheiro circulando, parte dele flui para o Bitcoin”, observa o analista.
Com o relaxamento das políticas monetárias em algumas das principais economias e o aumento dos estímulos, cresce o interesse por ativos que ofereçam proteção contra a desvalorização da moeda fiduciária. Nesse cenário, o Bitcoin se apresenta como alternativa, especialmente para investidores mais familiarizados com tecnologia e criptoativos.
“Crypto Week” pode dar novo impulso ao setor
Outro fator que anima o mercado cripto é a chamada “Crypto Week” no Congresso dos EUA, uma mobilização legislativa para discutir e votar três projetos de lei voltados à regulamentação do setor. Entre eles, a Lei GENIUS, que trata da regulação de stablecoins, é vista como a mais avançada e pode ser aprovada ainda nesta semana.
O Comitê de Regras da Câmara dos Deputados dos EUA se reúne nesta segunda-feira (14), às 17h (horário de Brasília), para analisar os textos. Caso haja avanço, a votação poderá ocorrer já na terça-feira (15). A expectativa do mercado é que, ao menos a Lei GENIUS, receba apoio suficiente para ser sancionada pelo presidente Donald Trump até sexta-feira.
Além dela, serão debatidas:
- A Lei Clarity, que visa regular o mercado de criptomoedas como um todo;
- A Lei Anti-CBDC Surveillance, que pretende proibir a criação de uma moeda digital estatal (CBDC) nos EUA.
Para Luiz Pedro, esse movimento nos EUA reforça a tendência de que o Bitcoin ganhe espaço como uma reserva estratégica em escala global. “À medida que mais países e empresas passam a ver o Bitcoin como alternativa frente à centralização monetária ou instabilidade cambial, sua usabilidade tende a crescer. O cenário atual é propício para isso”, conclui.