A deflagração da Operação Carbono Oculto trouxe à tona um esquema bilionário de sonegação, lavagem de dinheiro e adulteração de combustíveis, revelando como o crime organizado vem se infiltrando em segmentos sensíveis do mercado financeiro brasileiro. As investigações apontam para a participação direta do Primeiro Comando da Capital (PCC) em fintechs, fundos de investimento e empresas do setor de energia, levantando questionamentos sobre a eficácia da governança e da fiscalização.
Para Eduardo Silva, presidente do Instituto Empresa, o caso deixa claro que há contaminação do crime organizado no mercado financeiro. “O verdadeiro compromisso com ESG não está apenas em relatórios ou slogans, mas na adoção de sistemas sólidos de governança e transparência capazes de blindar empresas contra a corrupção sistêmica”, afirmou. A operação, nesse sentido, expõe não apenas irregularidades individuais, mas falhas mais amplas de compliance e de supervisão regulatória.
Quem são os alvos da Operação?
Entre os principais alvos da operação, destacam-se:
- Fintech BK Bank, suspeita de movimentar R$ 17,7 bilhões em operações irregulares;
- Reag Investimentos, gestora listada na B3;
- Grupo Aster/Copape, controlador de usinas, distribuidoras e postos de combustíveis;
- Cerca de 40 fundos de investimento, muitos ligados à região da Faria Lima, identificados pela Receita Federal como estruturas de ocultação patrimonial, somando R$ 30 bilhões em ativos.
As medidas judiciais determinadas no âmbito da investigação incluem o bloqueio de bens de administradoras de fundos, transportadoras, refinarias e quatro usinas de álcool. O alcance das decisões demonstra que, além dos operadores diretos, investidores comuns também podem ser afetados, mesmo sem envolvimento direto em práticas ilícitas.
Como o investidor é impactado?
Segundo Eduardo Silva, a fragilidade da governança no mercado de fundos aumenta os riscos de contribuição indireta. “O investidor precisa entender que, ao aplicar em fundos, ele está terceirizando decisões a um gestor. É crucial saber quem são essas pessoas, qual o histórico delas, como elas ganham dinheiro e quais incentivos podem estar enviesando suas decisões”, ressaltou.
A contradição é evidente. Enquanto o setor financeiro difunde discursos sobre responsabilidade social e sustentabilidade, os fatos revelam que mecanismos permissivos ainda permitem a infiltração do crime organizado. Essa realidade coloca em xeque a credibilidade de longo prazo do mercado, que pode ver sua imagem desgastada diante de investidores nacionais e internacionais.
Fiscalização é suficiente?
Embora existam normas da CVM e da Anbima para a divulgação de informações, a fiscalização permanece reativa, geralmente atuando somente após a identificação de fraudes em andamento. Nesse cenário, a diligência prévia dos investidores torna-se indispensável para mitigar riscos. Por outro lado, o caso reforça a necessidade de maior proatividade das instituições reguladoras na prevenção de irregularidades.
Para Silva, a questão é: “A falta de transparência nas operações e os conflitos de interesse ainda comprometem a tomada de decisão do investidor comum. É necessário avançar em mecanismos de controle que garantam maior segurança e confiabilidade no sistema”.
Credibilidade do mercado em risco?
Os desdobramentos da Operação Carbono Oculto podem afetar não apenas os envolvidos diretamente, mas também fundos e gestoras que compartilham vínculos societários ou operacionais com os alvos. Isso amplia o risco para investidores que acreditavam estar aplicando em veículos financeiros idôneos e comprometidos com o desenvolvimento econômico do país.
A possibilidade de que a constrição de bens determinada pela Justiça afete fundos paralelos amplia a insegurança, prejudicando investidores inocentes e levantando dúvidas sobre a solidez do ecossistema financeiro.
A operação evidencia que a luta contra fraudes e esquemas de lavagem de dinheiro no Brasil vai além da repressão policial, ela exige maior rigor na governança corporativa e uma transformação profunda na cultura de transparência do mercado.