A economia brasileira continua a ser um labirinto de ciclos de crescimento e recessão, onde cada período de expansão é seguido por uma crise ainda mais profunda do que a anterior. Entre os anos de 1980 e 2019, o país experimentou 26 anos de crescimento médio de 3% ao ano, mas também enfrentou 14 anos de recessão, com impactos mais intensos do que os observados em outros países emergentes. Para o economista Marcos Lisboa, ex-presidente do Insper, essa alternância entre prosperidade e dificuldades reflete a instabilidade estrutural do Brasil, fruto de decisões econômicas que remontam aos anos 1980. Ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda durante o governo Lula, Lisboa participou do Avenue Connection, onde concedeu entrevista exclusiva à BM&C News. No evento ele abordou os números de crescimento e crise, destacando que, apesar de anos de bom desempenho, o país ainda convive com ciclos de crise mais frequentes e intensos, que prejudicam o desenvolvimento sustentável.
Lisboa destaca que o Brasil não soube aproveitar de forma sustentável os bons momentos de crescimento. “O Brasil teve anos de bom crescimento, mas tivemos 14 anos de crise e, quando a crise vem no Brasil, ela é mais grave que nos demais países”, afirmou. Segundo o economista, a falta de uma agenda econômica de longo prazo e a ausência de reformas estruturais consistentes têm sido a principal causa dessa instabilidade.
O país experimentou crescimento robusto entre 1980 e 2019, mas também atravessou períodos de recessão severa, mais duradouros do que aqueles vividos por outros países emergentes. Essa alternância de altos e baixos resulta em uma economia volátil, altamente dependente de fatores externos e de decisões políticas inconsistentes, conforme Lisboa observou em sua análise.
Ele destaca que o Brasil, ao longo de quatro décadas, não soube aproveitar de forma sustentável os bons momentos de crescimento. “O Brasil teve anos de bom crescimento, mas tivemos 14 anos de crise e, quando a crise vem no Brasil, ela é mais grave que nos demais países”, afirma. Segundo o economista, a falta de uma agenda econômica de longo prazo, com reformas estruturais consistentes, tem sido a principal causa dessa instabilidade.
Lisboa ainda respondeu à perguntas sobre temas atuais, como a interferência do STF na volta do IOF e as tarifas comerciais impostas por Trump ao Brasil. Leia na íntegra:
BM&C News – Marcos, estamos observando um cenário de tensão comercial com as tarifas impostas por Trump ao Brasil. Você mencionou em sua palestra que o Brasil optou por se manter fechado em relação ao comércio internacional. Em sua opinião, em quais pontos o Brasil realmente adota um mercado mais protecionista e como devemos reagir a esses movimentos externos?
Marcos Lisboa – essa foi uma escolha que o Brasil fez. Fim dos anos 80, começo dos anos 90, o mundo resolveu se abrir. As cadeias globais se expandiram, os países emergentes derrubaram tarifas. Tinha proposta do Mercosul, mas o Brasil optou por continuar um país fechado. Não apenas nossas tarifas são muito mais elevadas que as do resto do mundo, como a gente adota uma série de normas técnicas que dificultam e, por vezes, inviabilizam o comércio internacional. O Brasil seguidamente violou as regras da OMC. O Brasil adotou medidas ilegais nos acordos internacionais. O Brasil não quis continuar a avançar no Mercosul como era planejado nos anos 90. Neste momento, por mais disparatada, absurda e colonialista que seja a proposta do governo americano, o Brasil deveria seguir a onda do resto do mundo, deixar o resto do mundo dialogar e conduzir. O mundo inteiro está sendo afetado por esse disparate, mas o Brasil não tem lugar de fala.
BM&C News – Você acredita que o Brasil deve seguir a postura de outros países?

Marcos Lisboa – Sim, deixar os outros negociarem. A gente não tem muito argumento técnico. Nós somos uma economia fechada, somos uma economia protecionista. E o que o governo americano está fazendo, estão copiando o que o Brasil fez durante muito tempo. Agora temos esse disparate que o governo americano está fazendo. Claro que a carta enviada ao governo brasileiro é acintosa, como assim se meter em decisões do nosso judiciário? Mas eu acho que é melhor deixar o mundo conduzir a negociação e o Brasil reconhecer o papel que lhe cabe pelas escolhas que a gente fez há mais de 30 anos.
BM&C News – Agora, sobre o tema do IOF e a interferência do Judiciário. O governo apostou no aumento do Imposto sobre Operações Financeiras para aumentar a arrecadação, o que gerou muitas críticas…
Marcos Lisboa – O Brasil está empobrecendo há mais de 50 anos. Está ficando mais pobre que os demais emergentes, mais pobre do que os países desenvolvidos. Esse empobrecimento do país não vem de graça, ele vem de escolhas que nós fazemos. Tem problemas para todos os lados. A governança da política pública está incrivelmente atrapalhada. Qualquer país de mundo razoável, aumentar a arrecadação é uma deliberação do Congresso. O Executivo pode mandar uma proposta, o Congresso delibera e tem prazo de implementação. Um decreto poder mexer em alíquota para aumentar a arrecadação, só em situações excepcionais para corrigir problemas regulatórios em alguns mercados específicos. Não foi esse o caso. A medida vai ser extremamente maléfica. E as pessoas contam histórias enganosas. Não é um tributo sobre bancos, vai ser um tributo sobre o crédito para pequenas e médias empresas. Se o governo reclamava da taxa de juros, vamos esperar o que vai acontecer com o crédito para pequenas e médias empresas depois do IOF.
BM&C News – Qual é a sua opinião sobre a atuação do Judiciário neste caso?
Marcos Lisboa – Não deveria o Supremo envolver-se em uma discussão sobre um imposto que é para ser regulatório e foi transformado em arrecadatório, porque você tem um arcabouço fiscal que não para de pé, foi alertado que o arcabouço não para de pé, o governo não fez nada e agora está surpreso. Era só o governo ter feito as contas que sabia que esse problema ia acontecer.
BM&C News – Você mencionou que o Brasil tem ciclos de crescimento e recessão muito voláteis. Pode nos dar um panorama dos últimos 50 anos da economia brasileira?
Marcos Lisboa – O Brasil é uma economia muito volátil. A gente tem que aprender a lidar com essa volatilidade. O Brasil teve anos de bom crescimento. Entre 1980 e 2019, desses 40 anos, tivemos 26 anos crescendo a 3% ao ano, o que é um bom crescimento. Mas tivemos 14 anos de crise, e quando a crise vem no Brasil, ela é mais grave que nos demais países. Então, temos mais crises do que outros países, e quando a crise vem, ela é mais grave. Quais são as causas disso? E como pessoas e empresas podem se proteger ou pelo menos reduzir o custo de uma economia tão volátil e com tanta dispersão de resultados entre setores?
BM&C News – Quais são as principais oportunidades e desafios que você vê para o Brasil no futuro?
Marcos Lisboa – O Brasil tem setores modernos, entre os melhores do mundo, e setores que estão ficando para trás. Então, entender um pouco qual é o diagnóstico dos nossos problemas, quais são as nossas oportunidades e como lidar com essa realidade que é a nossa.
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