O peso da segurança nos orçamentos empresariais brasileiros já se tornou um componente central do chamado “custo Brasil”. Segundo o levantamento da Ipea, as empresas destinam cerca de R$ 170 bilhões por ano para se proteger de violência, roubos e do mercado ilegal. Além disso, esse dispêndio corrói margens, limita a inovação e enfraquece a competitividade internacional do país.
Nesse sentido, o impacto não aparece apenas nas linhas de despesas, ele redireciona capital que poderia ser aplicado em tecnologia, P&D e expansão de capacidade. Por outro lado, enquanto economias emergentes com índices menores de criminalidade capturam investimentos com maior previsibilidade, o Brasil precisa embutir prêmios de risco na operação, encarecendo crédito, seguros e logística. Enquanto isso, a economia subterrânea fragiliza a concorrência leal e drena arrecadação.
Investir em segurança: qual é o peso da violência na economia?
Do ponto de vista macro, cada real dedicado à segurança privada, blindagem de ativos, monitoramento e seguros deixa de irrigar projetos de produtividade. Além disso, cadeias inteiras sofrem com efeitos indiretos, como prazos mais longos de entrega, rotas menos eficientes e estoques de segurança maiores. O resultado é uma economia que trabalha com um “freio de mão puxado”, onde a incerteza impõe custos adicionais a cada decisão de investimento.
Como resume o diretor-executivo do Instituto Livre Mercado, Rodrigo Marinho, “esse valor é distribuído entre praticamente todos os setores. No comércio e no varejo, há investimentos pesados em segurança privada, monitoramento e logística protegida”, avalia. Marinho também pontua que a indústria e o agronegócio também sofrem, com gastos expressivos em proteção de cargas e propriedades. “Na prática, é um custo transversal que atinge de forma desigual, mas permanente, toda a atividade produtiva do país”, conclui.
Setores mais afetados pelo investimento em segurança
Alguns segmentos convivem com riscos mais intensos e, por isso, carregam estruturas de custo proporcionalmente mais pesadas. Além disso, quanto mais perecível ou valioso o produto, maior tende a ser o gasto com mitigação de perdas, seguros e escolta.
- Combustíveis e logística: maior incidência de roubo de cargas, prêmios de seguro elevados e necessidade de rotas alternativas.
- Varejo e atacado: despesas com vigilância, controle de perdas, câmeras e barreiras físicas, além de furtos recorrentes.
- Bebidas e cigarros: concorrência desleal do contrabando, que distorce preços e reduz arrecadação tributária.
- Agroindústria: proteção de propriedades, maquinário e insumos de alto valor, especialmente em regiões mais isoladas.
Enquanto isso, setores intensivos em transporte e distribuição precisam redesenhar malhas logísticas, alongar prazos e absorver custos extras com rastreamento e contingências. “Nesse sentido, parte do investimento que deveria elevar produtividade vira apenas um escudo contra perdas“, destaca.
“Custo da violência”: produtividade e competitividade em xeque
Para Marinho, há um trade-off evidente: “O chamado ‘custo da violência’ reduz diretamente a produtividade porque desvia recursos que poderiam estar sendo aplicados em inovação, tecnologia e expansão da produção“. Além disso, impacta a competitividade: enquanto países emergentes com índices de criminalidade mais baixos conseguem atrair investimentos com maior segurança, o Brasil se torna menos atrativo, pois precisa embutir esse risco nos custos de operação”.
Ele acrescenta que a ordem de grandeza ajuda a dimensionar o problema: “Não é possível calcular com precisão absoluta, mas podemos afirmar que cada real despendido em segurança deixa de ser investido em novas contratações, modernização de plantas industriais ou desenvolvimento de produtos. Quando olhamos para R$ 170 bilhões ao ano, falamos de uma cifra comparável ao orçamento inteiro de grandes ministérios da União”.
O mercado ilegal e a atuação de facções
O crime organizado amplia o desequilíbrio competitivo ao abastecer o mercado ilegal com mercadorias contrabandeadas ou falsificadas. Além disso, facções capturam parte das cadeias logísticas e de distribuição, impondo pedágios informais, riscos a trabalhadores e distorções a preços finais. Nesse sentido, empresas formais enfrentam custos crescentes para manter compliance e segurança, enquanto competem com produtos que não recolhem tributos nem seguem normas sanitárias e de qualidade.
Nos últimos meses, parlamentares passaram a priorizar medidas que atingem as finanças do crime, como confisco de patrimônio, repressão a fluxos ilícitos e bloqueio de sites de comércio ilegal. Além disso, propostas de endurecimento penal para roubo de cargas e crimes de receptação buscam desorganizar o ecossistema que dá vazão aos produtos roubados. Nesse sentido, o objetivo é reduzir o espaço de atuação das facções e, ao mesmo tempo, aliviar a necessidade de gastos privados com segurança.
- Confisco e rastreabilidade: acelerar a perda de bens e valores de origem criminosa e ampliar a transparência de cadeias.
- Repressão financeira: travar contas, intermediários e “laranjas” que sustentam as operações.
- Bloqueio de sites ilegais: impedir a venda online de mercadorias contrabandeadas e falsificadas.
- Endurecimento de penas: foco em roubo de cargas, receptação e facilitação logística do crime.
Por outro lado, o setor produtivo alerta para o risco de novas obrigações burocráticas que, inadvertidamente, elevem custos. Enquanto isso, entidades como o Instituto Livre Mercado defendem um desenho regulatório enxuto e executável. “Do lado do poder público, é fundamental investir em políticas que aumentem a segurança jurídica, a eficiência policial e o combate efetivo ao crime organizado”, afirma Marinho. “Nossa missão é dar voz a quem produz e mostrar ao Congresso que reduzir a violência é também uma agenda econômica. Sem segurança, não existe ambiente saudável para o mercado livre prosperar”.
Segurança como fator de competitividade
Em síntese, diminuir o peso da segurança no custo operacional é condição para liberar capital a investimentos produtivos, elevar produtividade e atrair projetos de longo prazo. Além disso, a coordenação entre fiscalização, repressão financeira e simplificação regulatória pode encurtar o ciclo de resultados, reduzindo perdas e incerteza. Nesse sentido, o enfrentamento do crime organizado deixa de ser apenas um tema de segurança pública para se afirmar como alavanca de crescimento sustentável.