O economista Vandyck Silveira alertou que o Brasil enfrenta um grave risco de colapso fiscal, caso não haja medidas estruturantes para reequilibrar as contas públicas. Em entrevista à BM&C News, Silveira criticou a falta de ação do governo e a ausência de coragem política para enfrentar os verdadeiros gargalos do orçamento.
“Não há mais espaço fiscal nem técnico para sustentar o atual modelo de gastos obrigatórios. O problema está nos grandes blocos de despesas como previdência, saúde, educação, BPC e Fundeb. Mas ninguém quer tocar nesses temas”, afirmou.
Fiscal no radar: governo fragilizado e controle do Congresso
Segundo o economista, o Executivo se tornou “cativo” do Congresso Nacional, que passou a ditar a agenda econômica. “O Congresso manda e o governo cumpre. Um exemplo claro foi o recuo no IOF, ordenado em 10 dias pelo Legislativo — algo incomum no presidencialismo.”
Apesar das promessas de contenção de despesas, Silveira observa que os cortes propostos são marginais e não atingem setores com elevado impacto fiscal, como a Zona Franca de Manaus, o Simples Nacional, o agro e a indústria automotiva.
Modelo fiscal insustentável exige ruptura
Para Silveira, o desequilíbrio fiscal só será corrigido com uma ruptura. “O país só reage sob pressão. Foi assim com o Plano Real, com o Teto de Gastos, com o impeachment. Ou o Brasil aprende com amor ou com dor — e o amor claramente já não funciona.”
Ele reforça que a atual combinação de poupança negativa, baixo investimento (em torno de 16% do PIB) e produtividade estagnada é incompatível com um crescimento sustentável. “Precisamos investir ao menos 25% do PIB por mais de uma década. Soluços pontuais não resolvem.”
Silveira conclui que o caminho para a estabilidade passa por uma verdadeira reforma fiscal, capaz de enfrentar isenções ineficientes e rever estruturas orçamentárias ultrapassadas. “Enquanto isso não acontecer, o país continuará à beira de um shutdown. E talvez essa dor seja a única saída para despertar o senso de urgência.”
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