Apesar das discussões sobre um possível enfraquecimento do dólar com a ampliação do grupo BRICS, especialistas avaliam que a moeda norte-americana permanecerá essencial. “O dólar é a referência global na formação de preços e reservas internacionais”, destacou Miguel Daoud, analista de economia e política em conversa com a BM&C News. Países como China e Rússia buscam alternativas para reduzir a dependência do dólar, mas substituir a moeda no curto prazo é um desafio complexo.
O Papel do BRICS na Nova Ordem Econômica
O conceito de Sul Global surge como um movimento para unir nações em torno de uma nova configuração econômica. Além de membros do Hemisfério Sul, o grupo BRICS estuda a inclusão de países do Norte, como Belarus e Turquia, ampliando sua influência global. Segundo o entrevistado, a China está à frente dessa iniciativa para “enfraquecer a hegemonia política e militar dos Estados Unidos”.
Em vez de criar uma moeda única — inviável devido às diferenças econômicas entre os países —, a proposta central é promover o comércio entre as nações do BRICS utilizando moedas locais. “Brasil e China já realizam transações dessa forma, evitando custos de conversão e volatilidade do dólar”, explicou o entrevistado. Esse modelo permitiria maior flexibilidade, especialmente em economias que precisam ajustar suas moedas de acordo com suas realidades internas.
A Exclusão de Venezuela e Nicarágua: Uma Decisão Econômica e Estratégica
O Brasil se posicionou contra a entrada de países como Venezuela e Nicarágua, considerando seus regimes incompatíveis com princípios básicos. Daoud destacou: “Foi uma decisão estratégica que reforça o foco econômico do grupo, e não ideológico”. Contudo, a presença de regimes como o da Arábia Saudita — que mantém boas relações com os EUA — evidencia a natureza pragmática dessas alianças.
Para o Brasil, a expansão do BRICS representa uma chance de acessar mercados emergentes com alta demanda por alimentos e produtos essenciais. O entrevistado ressaltou que “a entrada em mercados com populações mais pobres pode impulsionar as exportações brasileiras”. Essa estratégia é essencial para diversificar as relações comerciais e fortalecer a posição brasileira no cenário global.
O Dólar Ainda Domina: Argentina como Exemplo de Dependência
Embora o comércio bilateral em moedas locais possa reduzir custos operacionais, o dólar ainda é indispensável para muitas economias. “A Argentina tentou negociar em moedas locais, mas permanece altamente dependente do dólar para suas necessidades”, afirmou Daoud. Esse exemplo reforça que, apesar dos esforços para diversificar, o dólar continua sendo a âncora do sistema financeiro global.