O Brasil caminha, silenciosamente, para uma posição desconfortável no ranking global de renda per capita. Segundo projeções recentes do Fundo Monetário Internacional (FMI), o país deve continuar perdendo espaço relativo no cenário mundial, aproximando-se cada vez mais das economias de renda média baixa e se distanciando das nações mais prósperas. A tendência é reflexo de um ciclo prolongado de baixo crescimento, estagnação da produtividade e falta de reformas estruturantes, que coloca em xeque o projeto de desenvolvimento de longo prazo da economia brasileira.
O mestre em economia e professor, Roberto Dumas, analisou que o Brasil caminha para uma estagnação relativa no ranking global de PIB per capita. Segundo ele, o país perdeu a janela do bônus demográfico e não avançou nas reformas estruturais que garantiriam crescimento sustentado. A conclusão acompanha os dados do FMI.
“Já praticamente perdemos o bônus demográfico, que é quando o país cresce por transpiração, com muita mão de obra entrando no mercado. Agora, sem esse impulso populacional, só nos resta crescer por produtividade. E não estamos fazendo isso”, afirmou Dumas em entrevista à BM&C News.
Gasto público ineficiente e as armadilha da renda média no Brasil
O economista destaca que o país permanece preso à chamada “armadilha da renda média”, um estágio em que o crescimento desacelera sem que o país consiga migrar para um patamar de renda elevada. Um dos principais entraves, segundo ele, é a estrutura de gastos públicos.
“O problema não é a taxa de juros. Ela é o termômetro. O problema é que o governo gasta muito e gasta mal. Isso gera o crowding out, quando o Estado consome a poupança nacional para se financiar, reduzindo o espaço para o investimento privado”, explica.
Dumas também alerta que essa dinâmica se perpetua independentemente do governo de turno, pois se trata de um problema estrutural do Estado brasileiro. “O governo até pode tentar tributar mais, mas isso só penaliza o empreendedorismo e não resolve o desequilíbrio fiscal“, acrescenta.
Desigualdade nos investimentos em educação no Brasil
Outro ponto central da estagnação, segundo o economista, está na forma como o Brasil distribui seus investimentos em educação. Ele cita dados que mostram que o país gasta um terço do que os países da OCDE investem no ensino fundamental, mas mais do que o dobro no ensino universitário.
“Não estou falando mal do ensino superior, mas todos os países que deram saltos de desenvolvimento, como Coreia do Sul, China, Polônia e Turquia, investiram pesadamente em educação básica. É lá que se forma a base para uma mão de obra mais produtiva”, afirma.
Brasil tem infraestrutura parada e baixa produtividade
Na visão de Dumas, o crescimento do Brasil também esbarra na estagnação da infraestrutura. Segundo ele, para recuperar a depreciação acumulada, seria necessário investir pelo menos 3,2% do PIB por ano, algo que o país não alcança há décadas.
“Nos últimos 20 anos, investimos cerca de 2,5% do PIB em infraestrutura. Isso é insuficiente. Sem infraestrutura, não há produtividade, e sem produtividade, não há crescimento sustentável”, destaca.
Ceticismo com salto de qualidade no PIB per capita
Questionado sobre a possibilidade de o Brasil alcançar países que conseguiram saltos de renda nas últimas décadas, como a Coreia do Sul, Dumas foi direto: “Sou cético. O Brasil pode até subir um ou dois degraus, mas não vejo nada que justifique um salto de qualidade no PIB per capita nos próximos 10 anos.”
Ele cita a ausência de reformas relevantes na segurança jurídica, contas públicas, educação e obras de infraestrutura como fatores que impedem o avanço. “O Brasil gasta, mas não investe. E o gasto que não é produtivo trava a economia.”
Brasil corre o risco de continuar preso às commodities
Na visão do economista, se nada for feito, o país corre o risco de se manter refém de um modelo baseado em exportações de baixo valor agregado. “Vamos continuar dependendo do agronegócio, do minério de ferro, do petróleo. E é difícil um país crescer de forma sustentada sendo tão vulnerável à demanda externa”, conclui.
















