A Winston Churchill se atribui a frase: “Os americanos sempre farão a coisa certa, somente depois de terem tentado todo o resto.” Esta citação parece prevalecer na forma como os Estados Unidos têm tratado a relação bilateral com a China. E isto é perigoso, porque estamos diante de uma situação que erros podem levar a uma catástrofe global. E, num mundo em que tudo é acelerado, pequenos erros podem ter implicações irreversíveis!
As provocações repetitivas contra a China constituem uma preocupação crescente. A liderança norte-americana tem adotado um comportamento incendiário na questão de Taiwan, que constitui um assunto doméstico chinês, assim reconhecido pela comunidade internacional desde a década de 1970, conforme o reconhecimento do Princípio de Uma Só China, em que se reconhece que há uma só China e Taiwan é parte inseparável dela. Este princípio constitui uma linha vermelha intransponível nas relações sino-estadunidenses.
Nos últimos anos, com o fito de fomentar e – quem sabe – até mesmo provocar um confronto, os norte-americanos e alguns aliados têm estimulado um aumento de hostilidades entre Taiwan e China.
A participação do vice-líder de Taiwan, Lai Ching-te, na posse do novo presidente do Paraguai – um dos 13 países que reconhecem Taiwan como independente – com passagem em Nova Iorque e São Francisco – constitui uma nova provocação, uma vez que fortalece a agenda separatista de Taiwan e constitui uma interferência direta na política doméstica chinesa. O Paraguai, ao manter relações com Taiwan tampouco ajuda o aprofundamento das relações do Mercosul com o seu principal parceiro comercial. E, para piorar o quadro, Lai viaja aos Estados Unidos como candidato presidencial com a mensagem de que pretende assumir um papel mais relevante internacionalmente. O resultado é que tais provocações levam a uma tensão crescente que, de fato, não é benéfica ao mundo. O episódio com a democrata, Nancy Pelosi, ex-presidente da Câmara de Deputados em 2 de agosto de 2022, deteriorou em muito o diálogo entre as duas potências.
É importante relembrar história de Taiwan: localizada a cem milhas da costa da China continental, Taiwan tem sido parte da China desde o século XVI. No entanto, em razão da Primeira Guerra Sino-Japonesa (1894-1895), o Japão assumiu o controle de Taiwan, que ocupou a ilha de 1895 a 1945. Com a derrota do Japão na Segunda Guerra, Taiwan retornou ao controle da República da China, então liderada pelo Partido Nacionalista Chinês (KMT), de Chiang Kai-shek. A República Popular da China tem enfatizado, desde 1949, a unidade do país. O princípio de “Uma Só China” foi reconhecido pela Assembleia Geral das Nações Unidas através da Resolução 2758, que lhe restaurou todos os direitos, inclusive o assento no Conselho de Segurança.
Por várias vezes, o mundo esteve próximo ao inverno nuclear. Felizmente, as forças políticas souberam frear o processo para impedir que o pior acontecesse. Cada um desses erros cria uma preocupação enorme no mundo. Que a frase atribuida a Churchill esteja incorreta e os Estados Unidos, de uma vez, acertem a sua política externa e cessem o confronto constante com a China. O mundo respirará aliviado.
*Marcus Vinícius De Freitas é professor visitante da China Foreign Affairs University e senior fellow da Policy Center for the New South
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