
Aquilo que os textos da mídia oferecem não é a realidade, mas uma construção que permite ao leitor produzir formas simbólicas de representação da sua relação com a realidade concreta.
A mídia é um espaço privilegiado para aqueles que dominam tal território, uma vez que os discursos que lá circulam utilizam estratégias discursivas capazes de transformar o irreal em real, o falso em verdadeiro, tudo isso baseados em técnicas como a confissão (reportagens, entrevistas, depoimentos, cartas, pesquisas), que operam um jogo em que se constituem identidades baseadas no regramento de saberes sobre a utilização que as pessoas devem fazer de seu corpo, de sua vida.
Na era da internet, época em que as redes de relacionamento repercutem discursos, sobretudo políticos, é comum ver mobilizações de grandes proporções em várias partes do mundo. No Brasil, tal fenômeno ganhou forma substancial em 2013, durante as manifestações que reivindicavam a redução dos preços das passagens de transporte público em várias cidades do país, sobretudo em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Naquele ano, o MPL-SP (Movimento Passe-Livre SP), reivindicava a diminuição da tarifa do transporte público. Desde 2006, o MPL-SP mobiliza-se para barrar aumentos no preço das tarifas, entretanto, só em 2013 que o movimento logrou êxito. Tal ação teve um efeito ‘jurisprudencial’, pois interveio na tomada de decisão dos órgãos públicos de várias regiões do Brasil, não só em São Paulo.
O discurso do movimento ressignificou a forma com que a instância cidadã lidava com as instâncias midiática e política, pois os próprios manifestantes, sem necessidade de mobilizar canais de televisão, divulgaram suas ideias e obtiveram adesão expressiva da população. Desse modo, não se pode olvidar que a mídia, em diferentes modalidades, na sociedade contemporânea, veicula representações que atravessam diferentes esferas sociais e que são materializadas em variados gêneros de discurso, com o propósito de subjetivar a relação dos cidadãos com suas próprias convicções, principalmente políticas e culturais. Deleuze diz que a subjetividade é a matéria-prima de toda produção, em outras palavras, ela é consumidora de sistemas de representação. Nesse sentido, a subjetividade, potencializada pela força da mídia, circula em discursos que regulamentam o comportamento das pessoas e o estado de coisas.