Dentre os muitos desafios que a humanidade enfrenta, atualmente, a polarização política é, sem dúvida, uma das principais preocupações, cujas consequências são exorbitantes. A polarização impede o avanço das sociedades, principalmente por ter transformado a política num jogo de soma zero, em que o grupo que vence, ao vez de buscar consenso, tenta eliminar o oponente para perpetuar-se no poder.
Não há mais mérito nos altos escalções. A amizade, a subserviência e a bajulação praticamente erradicaram a questão do mérito. Os governos já não refletem o melhor da sociedade, mas sim uma relação de amizade e proximidade. Separaram-se as tribos e cada uma passa a alimentar-se e a retroalimentar-se de uma bolha de informação que pouco melhora, efetivamente, a busca de soluções para os grandes desafios enfrentados pelas sociedades. Desta polarização resulta um processo ineficiente de solução para os grandes desafios nacionais e globais. Pouco se avança, pouco se melhora diante das infinitas possibilidades que a colaboração e cooperação humana poderiam alcançar, particularmente quanto ao incremento de renda, melhoria de vida e desenvolvimento humano. A era da mídia social também favoreceu a uma exacerbação nos comportamentos, análises e perspectivas. Tudo, praticamente, passou a ser dividido em linhas ideológicas, com um apego quase religioso a lideranças políticas que assumem papéis messiânicos em sua atuação.
O mundo ocidental enfrenta três grandes desafios: a quebra da ordem geopolítica, com a ascensão da China como potência global, a perenidade inflacionária elevada, com a redução do nível de produtividade, investimento e crescimento reduzido, e os desafios ambientais – clima, água e biodiversidade. Estes desafios globais requerem lideranças ao centro do espectro político, que saibam identificar a dificil navegação e as ações requeridas para enfrentar tais desafios. Para vencer tais desafios, é necessário sobrepujar o debate comezinho imposto pela polarização política, criar oportunidades e avançar numa agenda que é comum a todos, independentemente do grupo político que esteja no poder. A vitória eleitoral deve ser baseada não na crítica implacável do adversário nem pelo estímulo à polarização, mas sim pelo desenvolvimento de um clima de otimismo quanto aos melhores dias que ainda estão por vir. O eleitorado também precisa desradicalizar-se para o bem da sociedade.
Os problemas globais – um espectro ainda maior – jamais serão resolvidos pelo populismo ou pela polarização política. A incapacidade de dialogar não leva à construção de um mundo resiliente, capaz de construir novas pontes para o desenvolvimento. Num mundo em que a natureza ensina, de modo primoroso, a necessidade constante de cooperação entre a flora e fauna, é um equivoco a humanidade ainda acreditar em salvadores da pátria ou soluções individuais. A resposta não está nos extremos.
Vivemos num mundo que crises se tornaram ainda mais correntes: pandemias, crises econômicas e financeiras, e desafios ambientais crescentes. Estas crises não são políticas, mas reais. Requerem preparo para prevenir e estratégia para enfrentar e não ideologias, messianismos ou debates. É preciso desradicalizar o debate político, sob pena de, como sonâmbulos, caminharmos a guerras civis.
*Marcus Vinícius De Freitas é professor visitante da China Foreign Affairs University.