
No último final de semana, os sexagenários Titãs retornaram aos palcos de São Paulo e cantaram grandes sucessos para seus fãs na Allianz Arena. Entre as canções escolhidas, a voz de Nando Reis ressoou a poderosa “Não vou me adaptar”. Na música, os rockeiros relatam a passagem do tempo, o sentimento de inadequação e a determinação a não se curvar às novidades.
Apesar da canção ter sido lançada em 1985, ela ainda é extremamente atual e reflete uma realidade no mercado de trabalho: a dificuldade de adaptação dos profissionais mais velhos. O envelhecimento da população brasileira é uma tendência que vem se consolidando nos últimos anos. Dados do IBGE indicam que, até 2060, pessoas com 65 anos serão cerca de 25% da população total do Brasil. Some isso ao fato de que trabalhadores acima dos 30 anos já representam uma parcela considerável da força de trabalho – em 2022, 56,7% da população brasileira possuía 30 anos ou mais – e é possível entender como essa é uma questão cada vez mais importante.
Um dos principais desafios para os trabalhadores acima dos 30 anos é a habilidade de se adaptarem e se manterem atrativos para o mercado. Considerando as transformações impulsionadas pela tecnologia, o surgimento de novas carreiras e a alta taxa de desemprego no Brasil, essa é uma capacidade cada vez mais necessária.
Para o profissional mais velho, a alternativa para a reinvenção profissional é retomar os estudos e adquirir habilidades, competências e comportamentos esperados pelas empresas. Um novo caminho possibilita uma maior satisfação profissional, além de um possível maior sucesso e retorno financeiro. Tal busca, no entanto, não deve ser vista como uma competição contra os mais jovens, mas sim como uma forma de realçar as experiências vividas.
Mas a adaptação não pode vir somente dos trabalhadores. Para que o mercado se adapte ao aumento no número de trabalhadores acima de 30 anos, a mentalidade dos empregadores também deve mudar. É necessário superar estereótipos e preconceitos relacionados à idade, reconhecendo que a experiência e a bagagem adquiridas ao longo dos anos podem ser valiosas para o crescimento e o sucesso de uma organização.
Contratar um trabalhador mais velho não pode ser encarado como um favor ou uma boa ação, mas sim como uma aposta na diversidade de experiências na hora de compor a força de trabalho. Essa mudança de comportamento requer uma abordagem proativa por parte das empresas, que devem oferecer oportunidades de capacitação e desenvolvimento para seus colaboradores, independentemente da idade. Incentivar a realização de mentorias e programas de compartilhamento de conhecimento entre gerações é uma estratégia eficaz para aproveitar ao máximo o potencial de cada indivíduo.
Além disso, para que a transformação ocorra, o poder público precisa desempenhar um papel ativo. Políticas de emprego e treinamento voltadas para essa parcela da população podem estimular a inclusão e garantir oportunidades iguais para todos os trabalhadores, independentemente da idade.
O aumento da população acima de 30 anos demanda uma adaptação tanto por parte dos trabalhadores quanto dos empregadores – ambos os lados devem se adaptar à nova tendência da nossa população. Afinal de contas, o pulso ainda pulsa.